1. A simbologia dos 12 apóstolos
A tradição cristã retrata Jesus cercado por 12 apóstolos, um número que ressoa simbolicamente na fé judaico-cristã, tal como as 12 tribos de Israel.
Mas pesquisas recentes questionam se este número era um fato ou uma construção simbólica criada após a vida de Jesus.
2. A perspectiva dos estudiosos contemporâneos
Historiadores como André Leonardo Chevitarese e Gerson Leite de Moraes apontam para a possibilidade de que o grupo de seguidores de Jesus fosse mais extenso e diversificado, incluindo até mesmo uma mulher.
Para eles, o título de “apóstolo” parece não ter um uso único, sendo usado para qualificar tanto o grupo dos 12 como um conjunto mais amplo de seguidores de Jesus.
3. Analisando a Bíblia: Paulo e Lucas
Paulo e Lucas, na Bíblia, oferecem duas perspectivas sobre os apóstolos de Jesus.
Enquanto Paulo menciona os 12 apóstolos em suas cartas escritas na primeira metade da década de 50, Lucas, em seu livro escrito nos anos 90, apresenta a ideia de que Jesus teria selecionado 12 discípulos especiais dentre todos os seus seguidores.
4. Quantos seguiam Jesus?
A quantidade de pessoas que seguiam Jesus é uma questão complexa. Enquanto os evangelhos apresentam multidões seguindo Jesus, Chevitarese sugere que o movimento era, na realidade, muito pequeno e intrajudaico.
Além disso, a evidência do número de seguidores de Jesus pode ser encontrada na carta de Paulo aos Coríntios, onde ele menciona que Jesus foi visto por “mais de 500 irmãos de uma só vez”.
5. Diferenciando ‘apóstolo’ de ‘discípulo’
A diferença entre ‘apóstolo’ e ‘discípulo’ é outro aspecto a ser considerado. Enquanto ‘discípulo’ refere-se a alguém que recebe ensino de outro, ‘apóstolo’ é derivado do grego e significa ‘enviado’, dando a entender um papel mais ativo na propagação da mensagem de Jesus.
6. A existência de apóstolos mulheres
Paulo, em sua carta aos Romanos, menciona o casal Andrônico e Júnias, descrevendo-os como “apóstolos eminentes”. Júnias, uma mulher, é então reconhecida como apóstola.
Além disso, Maria Madalena, embora não oficialmente referida como apóstola, teve um papel importante no movimento de Jesus e é frequentemente chamada informalmente de “apóstola dos apóstolos”.
7. Construindo o imaginário dos 12 apóstolos
A ideia dos 12 apóstolos pode ser vista como uma construção simbólica, formada após a vida de Jesus e solidificada através dos séculos.
Apesar das evidências que sugerem um grupo mais amplo de seguidores, a tradição dos 12 apóstolos prevaleceu e ainda é considerada pela Igreja Católica, que vê todos os bispos contemporâneos como sucessores dos apóstolos.
Ao explorar as evidências e interpretações históricas, podemos ver que a história dos apóstolos de Jesus é muito mais complexa e rica do que a simples imagem de 12 homens seguindo o Messias.
Ao abrir nossa mente para a possibilidade de um grupo de seguidores mais amplo e diversificado, podemos apreciar a influência de Jesus em um contexto muito mais amplo.
8. O Evangelho de acordo com fontes alternativas
Ao considerar fontes não incluídas no cânone bíblico, como o “Evangelho Q” e o “Evangelho de Tomé”, a existência de um grupo seleto de 12 apóstolos se torna ainda mais incerta. Esses textos, mais antigos que o Evangelho de Lucas, não mencionam um grupo específico de 12 próximos a Jesus. Isso indica que a ideia dos 12 apóstolos, tal como a conhecemos, pode ser mais uma construção simbólica que uma realidade histórica.
9. Os Apóstolos e o poder institucional
A tradição dos 12 apóstolos, além de ter uma função simbólica, pode ser vista como uma forma de estabelecer e legitimar o poder institucional. O historiador Chevitarese sugere que a construção desse grupo seleto serviu para estabelecer uma elite, rompendo a horizontalidade e impondo uma verticalidade. Assim, poderia ser uma maneira de estruturar a hierarquia dentro da primitiva comunidade cristã.
10. O termo “apóstolo” e a evolução do seu uso
Moraes sugere que o termo “apóstolo” pode nem mesmo ter existido durante a vida de Jesus, sendo uma incorporação posterior usada para organizar a estrutura da Igreja primitiva. Hoje, algumas igrejas evangélicas ainda referem-se aos seus líderes como apóstolos, enquanto na Igreja Católica, o termo é reservado para se referir aos sucessores diretos dos apóstolos originais – os bispos.
11. A perpetuação do mito dos 12 apóstolos
Apesar das evidências sugerindo um grupo mais amplo e diversificado de seguidores, a tradição dos 12 apóstolos prevaleceu e foi incorporada à fé cristã como a conhecemos. Isso ressalta a importância da tradição e do simbolismo na formação e manutenção das crenças religiosas.
Em resumo, a história dos apóstolos de Jesus é complexa e cheia de nuances, indo além do número simbólico de 12. Ao considerar uma variedade de fontes e interpretações, podemos começar a apreciar a diversidade e a complexidade do movimento original de Jesus.