A BNDESPar, a unidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responsável por investimentos, confirmou a renovação de apenas uma de suas indicações ao conselho de administração da Tupy (TUPY3). Vinícius Marques de Carvalho, atual ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), foi o único a manter sua posição. Em contrapartida, Anielle Franco, ministra de Igualdade Racial, e Carlos Lupi, ex-ministro da Previdência Social, foram excluídos das indicaturas. Todos foram designados ao conselho no ano passado, com remuneração mensal de R$ 36,1 mil. Esta alteração ocorre devido ao término dos mandatos e segue a orientação do controlador da BNDESPar.
Apesar de Lupi ainda ocupar o cargo de ministro da Previdência na data de organização dos materiais da assembleia, realizada em 30 de abril, ele enfrentava pressão relacionada a um escândalo de fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o que poderia resultar em sua retirada do governo. Lupi e Franco estiveram sob investigação na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para analisar possíveis conflitos de interesse na sua atuação como conselheiros da Tupy, mas o processo foi arquivado.
Em nota, a BNDESPar destacou que a indicação de líderes do setor público e privado busca enriquecer a diversidade e a experiência nas decisões estratégicas das empresas investidas, em conformidade com as diretrizes legais e do governo federal. A BNDESPar informou que aguarda a seleção de mais dois nomes para completar o conselho, cujos mandatos terminaram em abril.
Durante a assembleia, também foram aprovadas as contas dos administradores e as demonstrações financeiras de 2024, com mais de 101,5 milhões de votos a favor e 11,4 milhões de abstenções. O lucro líquido da Tupy no ano foi de R$ 79,5 milhões, com parte destinada à reserva legal e o restante a uma reserva especial para investimentos. Além disso, foi homologado o pagamento de R$ 190 milhões em Juros sobre Capital Próprio (JCP), a serem realizados em janeiro de 2025, com base nos resultados de exercícios anteriores.
Os acionistas decidiram que o novo conselho da Tupy terá nove membros titulares e até cinco suplentes, conforme comunicado divulgado na CVM. A votação foi realizada por meio de voto múltiplo, a pedido de acionistas com participação superior a 5% do capital social. Também foram escolhidos os integrantes do Conselho Fiscal e determinado a remuneração anual dos administradores e dos comitês.
Desconforto no Conselho
A presença de Anielle Franco e Carlos Lupi no conselho já gerava inquietação há algum tempo. Desde suas nomeações em 2023, as indicações enfrentaram críticas nos bastidores do mercado e entre acionistas minoritários da Tupy, que questionavam a qualificação técnica e a relevância da presença de ministros de Estado em um conselho de administração de uma empresa global no setor automotivo. A análise predominante era a de que essas escolhas estavam fortemente ligadas a motivações políticas, aumentando o atrito entre os representantes do governo e os demais conselheiros.
A preocupação se intensificou também em relação à nomeação de Rafael Lucchesi para a presidência da Tupy, cargo assumido em 1º de maio, substituindo Fernando Rizzo. Investidores e analistas manifestaram apreensão quanto à falta de experiência executiva de Lucchesi em grandes corporações. Embora tenha uma carreira consolidada no setor industrial e na Confederação Nacional da Indústria (CNI), sua indicação levantou questionamentos por parte de acionistas minoritários, que consideraram a mudança de liderança sem justificativas claras sobre a necessidade de uma nova gestão.