As taxas de juros médias cobradas por instituições financeiras no Brasil experimentaram um aumento em março, afetando tanto famílias quanto empresas. Nas operações de crédito livre para pessoas físicas, o cartão de crédito rotativo apresentou um expressivo avanço de 2,5 pontos percentuais (pp), alcançando 445% ao ano. Essa modalidade de crédito se destaca como uma das mais onerosas do mercado.
A limitação da taxa de juros do rotativo, implementada em janeiro do ano passado para mitigar o endividamento, não tem refletido uma queda significativa nas taxas, que ainda variam ao longo do tempo. A medida se aplica apenas a novos financiamentos, sem alterar as taxas estipuladas durante a concessão do crédito. Nos últimos 12 meses, a taxa do cartão de crédito rotativo subiu 23,7 pp.
Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (30), proveniente das Estatísticas Monetárias e de Crédito. O crédito rotativo tem um prazo de 30 dias e é acionado pelo consumidor que não consegue quitar o valor total da fatura. Após esse período, a dívida do cartão é parcelada, e, no caso das operações parceladas, os juros subiram 0,1 pp em março, mas caíram 9,6 pp em relação ao ano anterior, totalizando 181,1% ao ano.
Taxas de Crédito Livre e Direcionado
A taxa média de juros nas concessões de crédito livre para famílias aumentou 0,3 pp em março, com uma alta acumulada de 3 pp nos últimos 12 meses, atingindo 56,4% ao ano. Contrapõe-se a esse aumento a redução de 8 pp nos juros do cheque especial, que permanecem altos em 134,2% ao ano, considerando um aumento de 6,1 pp em 12 meses.
No caso das empresas, as novas contratações de crédito livre viram um incremento de 0,8 pp em março e 3,5 pp em 12 meses, com taxa média de 24,6%. Dentro desse segmento, o cheque especial teve um aumento expressivo de 9 pp, alcançando 349,2% ao ano.
O Banco Central atribui a elevação das taxas no crédito livre a alterações na composição dos saldos das modalidades de crédito e na variação das taxas de juros. As instituições têm autonomia para definir as taxas cobradas, ao contrário do crédito direcionado, vinculado a regras governamentais específicas para setores como habitação e microcrédito.
Em março, a taxa de crédito direcionado para pessoas físicas foi de 11,4% ao ano, com um aumento de 0,9 pp em um mês e 1,6 pp nos últimos 12 meses. Para empresas, a taxa passou para 18,4% ao ano, com incremento de 4,7 pp mensalmente e 4,9 pp anualmente. Isso indica uma taxa média geral de juros de 31,3% ao ano, considerando todos os tipos de crédito.
A alta das taxas de juros está em linha com o aumento da Selic, atualmente fixada em 14,25% ao ano, e utilizada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para controlar a inflação. As previsões indicam que a Selic pode atingir 15% até o final do ano.
As estatísticas também revelam que a taxa de captação de recursos pelos bancos subiu 0,8 pp no mês, somando 11,9%, enquanto o spread bancário, que mede a diferença entre as taxas de juros e o custo de captação, aumentou 0,1 pp, situando-se em 19,4 pp.
Concessões de Crédito e Inadimplência
Em março, as concessões de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) cresceram 2,7%, totalizando R$ 600,5 bilhões. Esse aumento foi impulsionado por um crescimento de 6,3% no crédito para empresas, apesar de uma redução de 0,1% para pessoas físicas.
O estoque total de empréstimos no SFN atingiu R$ 6,483 trilhões, representando um aumento de 0,6% em relação ao mês anterior e 9,9% na comparação com março do ano passado. Os empréstimos a pessoas jurídicas totalizaram R$ 2,455 trilhões, enquanto para pessoas físicas somaram R$ 4,028 trilhões.
A inadimplência, medida pelo atraso acima de 90 dias, permanece estável em 3,2%, sendo 3,8% para pessoas físicas e 2,2% para empresas. O endividamento das famílias, que expressa a relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses, ficou em 48,2% em fevereiro, mostrando uma leve redução de 0,3% mensalmente.
Ao desconsiderar o financiamento imobiliário, o endividamento caiu para 30,1%. O comprometimento da renda, por sua vez, ficou em 27,2%, com um aumento de 0,1% em um mês.