A recente volatilidade nos títulos da Raízen (RAIZ4) não impactou significativamente o mercado de crédito corporativo no Brasil. Conforme análise do Bradesco BBI, os spreads de crédito de debêntures incentivadas com classificação AAA tiveram uma queda de 5 pontos-base, atingindo novos mínimos em -77 bps. Por outro lado, os spreads das debêntures indexadas ao CDI registraram um leve aumento de 2 pontos-base.
Em contraste, os títulos em IPCA+ da Raízen apresentaram um aumento médio de 9 pontos-base nos spreads. Esse movimento foi considerado modesto se comparado à substancial elevação dos yields de seus títulos no exterior, que saltaram de 6,7% para 9,9% para papéis com vencimento em 2034.
Os analistas do Bradesco destacaram que a abertura dos yields dos títulos da Raízen não causou reflexos significativos nas debêntures do mercado local.
A preocupação com os papéis da Raízen foi intensificada após uma reportagem do jornal Valor Econômico sugerir a possibilidade de uma reestruturação de dívidas, o que motivou investidores a desinvestirem nos bonds da empresa no mercado internacional. No entanto, na última sexta-feira (11), a Raízen divulgou um fato relevante desmentindo quaisquer planos de reestruturação ou pedidos de recuperação judicial. A companhia afirmou manter uma posição sólida de caixa, com R$ 15,7 bilhões disponíveis, além de R$ 5,5 bilhões em linhas de crédito rotativo, e mencionou que seus acionistas, Cosan e Shell, estão considerando alternativas para fortalecer a estrutura de capital e apoiar a estratégia de longo prazo.
Mercado de crédito em alta
O mercado primário permaneceu ativo, com emissões totalizando R$ 5,9 bilhões em debêntures na última semana, totalizando 11 operações. A principal emissão foi da Argo Energia, que captou R$ 1,7 bilhão em três séries com vencimentos em 2030, 2032 e 2035, com taxas entre DI + 0,5% e DI + 0,8%.
Outras ofertas anunciadas recentemente incluem Motiva (R$ 1,8 bilhão), Equatorial Goiás (R$ 1,3 bilhão) e Guararapes (R$ 1,45 bilhão). Esses dados indicam um contínuo apetite por crédito corporativo, mesmo em um cenário de volatilidade em alguns setores.
Em setembro, os índices de renda fixa demonstraram desempenho superior entre os papéis com isenção fiscal, no contexto de um debate crescente sobre a tributação de ativos isentos, como as debêntures incentivadas. De acordo com a Anbima, o índice IDA-IPCA Infraestrutura, que acompanha debêntures com benefício fiscal, subiu 2,33% em setembro, liderando as altas entre os índices da instituição. O índice IDA-IPCA Ex-Infraestrutura, que reflete títulos sem incentivo, avançou 1,45%, e o IDA-DI, formado por debêntures atreladas à taxa DI, cresceu 1,19%.
Marcelo Cidade, economista da Anbima, observou que a crescente atenção do mercado à tributação de ativos isentos valoriza os papéis que ainda mantêm essa vantagem fiscal.