No início do dia, o Ibovespa registrou alta, enquanto o dólar apresentava queda, apesar do comportamento oposto observado nos índices de Nova York. No exterior, investidores estavam cautelosos em relação às perspectivas econômicas após o “shutdown”, um impasse fiscal nos Estados Unidos que resulta em funções governamentais “congeladas”. No Brasil, os ativos mostraram sinais de otimismo.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, esclareceu: “Geralmente, esse tipo de situação não impacta significativamente o mercado e tende a durar apenas alguns dias (em média, oito), com rápido retorno à normalidade. Contudo, desta vez, há um agravante: a relevância dos dados do mercado de trabalho que serão divulgados nesta semana, culminando no payroll previsto para sexta-feira.”
A probabilidade de o Federal Reserve (Fed) realizar um corte de 25 pontos-base nos juros americanos em outubro ganhou força após a pesquisa ADP indicar cortes de emprego no setor privado dos EUA em setembro, de acordo com informações do CME Group.
Situação Mudou no Brasil
No início da tarde, a situação no Brasil se reverteu. O Ibovespa começou a ceder, influenciado por movimentos de realização de lucros, sendo a Weg uma das ações com maior impacto após sofrer um “downgrade” por parte do Citi. Ao mesmo tempo, os índices de ações em Nova York mostravam sinais mistos, em um contexto de incerteza sobre a divulgação de dados econômicos devido ao shutdown. O dólar também inverteu a tendência e passou a subir.
Os índices americanos refletiram expectativas de que a interrupção das atividades governamentais seja breve. O S&P 500 subiu 0,4%, alcançando um novo recorde intradiário, enquanto o Nasdaq Composite avançou 0,5%. O Dow Jones subia 62 pontos, ou 0,1%. No ponto mais baixo do dia, o S&P 500 chegou a registrar uma queda de 0,5%.
Conforme Paula Zogbi ressaltou, a possibilidade de não haver divulgação do principal dado que sustenta um corte de juros pelo Fed pode levar a um estresse no mercado, uma vez que os movimentos recentes têm se apoiado na expectativa de continuidade do afrouxamento da política monetária.
Ela adverte: “Sem essa perspectiva, é natural que haja uma realização dos lucros recentes, considerando que o cenário poderia se tornar mais incerto temporariamente. O S&P 500, por exemplo, já valorizou mais de 33% desde suas mínimas em abril. Qualquer incerteza sobre a situação econômica americana poderia direcionar fluxos de investimentos para outras economias, incluindo o Brasil; no entanto, ainda é possível que um acordo seja alcançado nos últimos minutos, como já aconteceu em outras ocasiões.”
Embora o shutdown não seja considerado o cenário base por muitos analistas, o JPMorgan considera viável que o payroll seja divulgado antes da reunião do Federal Open Market Committee, no final de outubro. Durante esse intervalo, as informações do relatório ADP e a divulgação da Confiança do Consumidor, programada para terça-feira (30), continuam a sinalizar preocupações. “Os riscos no mercado de trabalho estão aumentando”, destaca o relatório do JPMorgan.
Além do impacto do cenário internacional, o mercado também monitora de perto as compensações referentes à isenção do Imposto de Renda (IR). As taxas de juros no Brasil subiam ao longo da sessão, mesmo com a queda nos rendimentos dos Treasuries, que se mantinham em baixa durante a tarde.
A incerteza persiste, pois analistas questionam de onde virão os recursos para cobrir a perda de receita estimada em R$ 26 bilhões. “Há muita indefinição, e será necessário encontrar uma solução até 2027”, afirmou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, destacando a falta de perspectivas para uma solução fiscal de curto prazo.
(com Estadão Conteúdo)