A Cyrela (CYRE3) e a Eztec (EZTC3) estão em posição privilegiada para se beneficiar do novo crédito imobiliário anunciado pelo governo na última sexta-feira, dia 10. De acordo com análises do Goldman Sachs e do Bradesco BBI, a proposta reformula o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), a principal fonte de financiamento para a construção de imóveis de média e alta renda, e deve estimular o setor.
Uma das principais mudanças inclui o aumento do teto do valor dos imóveis financiados pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que passa de R$ 1,5 milhão para R$ 2,25 milhões. Além disso, a Caixa Econômica Federal elevará o limite de financiamento, conhecido como LTV (loan-to-value), de 70% para 80%. Essas medidas visam facilitar o acesso ao crédito habitacional e impulsionar a construção civil.
Atualmente, os bancos são obrigados a destinar 65% dos depósitos da poupança ao crédito imobiliário. Com a nova proposta, 100% dos recursos poderão ser utilizados para novos financiamentos, o que pode beneficiar significativamente empresas como Cyrela e Eztec, que focam em imóveis de média e alta renda. A implementação das mudanças será gradual, com previsão de conclusão em 2027.
O Goldman Sachs considera que a proposta pode trazer vantagens para as empresas do setor, mas ressalta que seu sucesso depende da adesão das instituições financeiras. A recente fuga de recursos da poupança, em função da disparidade entre sua rentabilidade e a taxa Selic, apresenta uma incerteza significativa.
Apesar desse cenário, a Cyrela mantém uma posição favorável. O banco destacou a estratégia barbell da empresa, que combina lançamentos para públicos de baixa e alta renda, como um fator que pode sustentar o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE). As ações da Cyrela estão negociadas a aproximadamente cinco vezes o preço sobre lucro (P/L), bem abaixo da média histórica de 11 vezes observada nos últimos 12 anos.
A análise do Bradesco BBI indica que o novo modelo poderá facilitar o acesso ao crédito para mutuários de renda média. No entanto, há preocupações em relação à execução da proposta, especialmente em um contexto onde o SBPE enfrenta pressões devido à sua estrutura. O banco ressalta que a resposta dos bancos privados será crucial para o sucesso da iniciativa.
Implementação e Expectativas
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que 2026 será um ano de testes antes da implementação total das mudanças, prevista para 2027. Durante o anúncio em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que a reforma pode fortalecer a classe média e alavancar a construção civil. O governo também lançou uma linha de crédito para reformas destinada a famílias com renda mensal de até R$ 9.600, com juros variando entre 1,17% e 1,95% ao mês.
Haddad classificou a reforma como um passo importante na modernização do sistema financeiro, visando canalizar recursos mais acessíveis para o setor da construção. A principal preocupação do mercado agora gira em torno da adesão dos bancos e da movimentação dos depósitos de poupança. Se o novo modelo conseguir manter a atratividade dos recursos e aumentar a liquidez do crédito imobiliário, o setor pode vivenciar uma nova fase de crescimento.