Em um contexto global caracterizado por incertezas econômicas e tensões geopolíticas, o ouro ressurge como uma opção de segurança para investidores. A cotação do ouro reflete essa mudança de comportamento no mercado financeiro, levando muitos a se questionarem sobre as razões dessa valorização e a viabilidade de um investimento nesse metal precioso.
A alta recente na cotação do ouro é influenciada por diversos fatores. Entre eles, destacam-se a inflação persistente nas principais economias, a expectativa de redução nas taxas de juros nos Estados Unidos, a compra recorde de ouro por bancos centrais e um ambiente geopolítico instável.
Motivos da Valorização do Ouro
Rodrigo Sgavioli, head de alocação da XP, afirma que o ouro ganha relevância em períodos de instabilidade econômica ou política. Em suas palavras, “historicamente, ambientes inflacionários ou de tensões geopolíticas fazem com que o ouro volte à pauta”. A valorização do metal observada nos anos 1970, quando seu preço saltou de cerca de 50 para 800 dólares a onça-troy, comprova essa tendência.
Sgavioli explica que o ciclo atual de alta do ouro possui várias origens, incluindo:
- A economia global pós-pandemia, que é mais inflacionária.
- Grandes volumes de compra de ouro físico por bancos centrais.
- A necessidade de diversificação de reservas por países sujeitos a possíveis sanções econômicas.
Outro ponto crucial é a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos. A relação entre a queda do juro real e a valorização do ouro é bem documentada, e esse padrão voltou a ser observado recentemente.
Considerações sobre Investir em Ouro
Para Sgavioli, investindo em ouro pode ser uma estratégia de diversificação, embora exija cautela. O especialista ressalta que “o ouro é um ativo de proteção global, não local”, funcionando melhor na parte internacional de um portfólio, especialmente para investidores que atuam fora do Brasil.
Embora proteja contra inflação global e choques geopolíticos, o ouro não gera rendimento, ao contrário de ativos que pagam dividendos, como ações ou títulos públicos. “Ele não gera carrego, não paga juros nem dividendos. Seu retorno depende da valorização do preço”, completa Sgavioli. Assim, recomenda-se que o ouro represente de 3% a 10% do portfólio do investidor, dependendo de seu perfil e da exposição a ativos internacionais.
Vantagens e Desvantagens do Investimento em Ouro
Entre as vantagens de investir em ouro, estão:
- Proteção contra inflação global e desvalorização cambial.
- Diversificação em períodos de crise ou tensões políticas.
- Ativo com oferta limitada, que tende a preservar valor a longo prazo.
Por outro lado, as desvantagens incluem:
- Ausência de rendimento (sem juros ou dividendos).
- Dificuldade em estimar seu “valor justo”.
- Possíveis restrições de liquidez em alguns instrumentos de investimento que envolvem ouro.
“Durante décadas, o ouro teve desempenho abaixo de outros ativos financeiros. É importante entender que ele é uma peça complementar, e não o protagonista da carteira”
Perspectivas para o Ouro
De acordo com Sgavioli, o cenário permanece favorável para o ouro no médio prazo. Ele ressalta que enquanto as taxas de juros reais nos EUA continuarem em queda e as tensões geopolíticas elevadas, “o ouro deve seguir valorizado”. Contudo, ele alerta que o investimento em ouro deve ser visto como parte de uma estratégia global de diversificação e proteção, não como uma corrida em busca do metal precioso.
O entendimento do papel do ouro dentro da carteira de investimentos é essencial para que os investidores possam aproveitar melhor os ciclos de valorização, evitando riscos desnecessários.