A percepção global sobre oportunidades de investimento passou por transformações significativas nos últimos meses. Durante o Fórum Econômico de Davos, realizado em janeiro, a crença predominante era de que os Estados Unidos representavam não apenas um destino privilegiado, mas o único viável para investimentos em ações. No entanto, essa visão se alterou rapidamente, levando à reavaliação do que foi descrito como “excepcionalismo americano”. Essa mudança de perspectiva foi discutida por Tito Ávila, sócio-fundador da LIS Capital, em um evento para investidores realizado em São Paulo, em 6 de novembro.
Ávila destacou que, apenas seis meses após o consenso sobre a primazia dos EUA, as certezas começaram a se desvanecer. “O que era considerado uma alternativa única já não é visto como excepcional”, afirmou.
Não obstante, Ávila mantém sua confiança na visão de Warren Buffett, ressaltando que os Estados Unidos continuam a ser um local vantajoso para negócios e geração de valor para os acionistas. O megainvestidor, que recentemente participou da convenção anual da Berkshire Hathaway, expressou otimismo em relação à economia americana, mesmo em meio a incertezas políticas e fiscais. Buffett reconheceu que seu sucesso se deve, em grande parte, às oportunidades disponíveis nos EUA, afirmando que teria tido um desempenho médio se tivesse nascido em outra região do mundo.
Entretanto, um alerta foi lançado em relação ao aumento das despesas públicas e ao risco de deterioração fiscal. Ávila destacou que o déficit fiscal atual gira em torno de 7% ao ano, o mais elevado fora de contextos de guerra, num cenário de economia aquecida e baixo desemprego. Ele enfatizou a importância da diversificação em investimentos internacionais, especialmente para os brasileiros que, atualmente, concentram apenas de 2% a 4% de suas economias no exterior. Em comparação, investidores em países como Peru, Chile e África do Sul possuem uma alocação externa que varia entre 20% e 25%.
A busca por líderes globais no mercado de investimentos, segundo Bruno Waga, sócio e co-gestor da Opportunity, vai além da mera diversificação. Ele argumentou que as melhores oportunidades não estão restritas à geografia local, mas abrangem empresas líderes globais. Como exemplo, mencionou que as empresas que mais lucram no Brasil em setores como mídia, varejo e computação em nuvem são, na verdade, corporações como Google, Amazon e Microsoft, que obtêm grande parte de suas receitas fora dos EUA.
Waga também citou Booking e Airbnb como exemplos de empresas que, apesar das dificuldades enfrentadas durante crises, têm potencial para emergir mais fortes. Ele reconhece a agitação política nos EUA, porém acredita na capacidade das instituições de restabelecer o equilíbrio em tempos de instabilidade. “Mesmo em momentos caóticos, o sistema de pesos e contrapesos demonstra seu funcionamento”, concluiu, o que fortalece a confiança em investimentos em empresas com vantagens competitivas duradouras.