O Prêmio Nobel mantém uma robusta estratégia de investimento, permitindo à fundação responsável a gestão de um patrimônio significativo ao longo de mais de um século, o que possibilita a concessão de prêmios a laureados mundialmente.
Estabelecido pelo testamento do químico e engenheiro sueco, Alfred Nobel, o prêmio é financiado por sua herança, que originalmente totalizava 31 milhões de coroas suecas, equivalendo a aproximadamente R$ 17,57 milhões hoje. Essa fortuna é administrada pela The Nobel Foundation.
A planejadora financeira Patrícia Palomo, associada à Planejar, ressalta que a maneira como a fundação administra seu patrimônio serve de exemplo: “A Fundação nos ensina que o sucesso financeiro resulta da união entre objetivos bem definidos, uma visão de longo prazo e uma governança que resiste às pressões de curto prazo”, afirma.
Em 2025, os vencedores do Prêmio Nobel receberão 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,23 milhões) por suas contribuições em ciência, pesquisa ou ações humanitárias. Nobel deixou seu testamento em 1895 e faleceu em 10 de dezembro de 1896. A fundação que gerencia os prêmios foi criada em 1900.
Segundo Sigrid Guimarães, CEO da Alocc Gestão de Patrimônio, outro aprendizado a ser destacado é a importância da disciplina e da constância na gestão financeira. “A fundação segue uma política de investimento sólida e diversificada globalmente, evitando mudanças frequentes, mesmo diante de crises. Essa abordagem é valiosa para qualquer investidor: o segredo está em definir e seguir um plano, sem agir por impulso”, explica.
Dados recentes indicam que, no final de 2024, o capital total investido pela Nobel Foundation alcançou 6,79 milhões de coroas suecas (R$ 3,85 milhões). Desses, 6,6 milhões de coroas suecas (R$ 3,74 milhões) estavam destinados aos prêmios, excluindo o valor de imóveis diretamente possuídos pela fundação.
O retorno sobre esses investimentos em 2024 foi de +11,6%. Nos últimos cinco anos, o capital cresceu 9,2% anualmente, enquanto nos últimos dez anos, o aumento foi de 8,3%. A alocação do capital investido está distribuída em cinco categorias:
- 56% em fundos de ações;
- 9% em fundos imobiliários e de infraestrutura;
- 12% em ativos de renda fixa e líquida;
- 24% em ativos alternativos;
- 1% em ganhos acumulados de hedge cambial.
Ao considerar esses princípios na criação de um portfólio, Caio Tonet, diretor institucional da W1 Inc, ressalta que cada investidor possui sua própria tolerância ao risco. “Essas variáveis dependem dos objetivos pessoais e da fase da vida, uma vez que a gestão de patrimônio não se resume à mera sucessão, como na herança de Nobel. Entretanto, a diversificação é um consenso entre especialistas”, ressalta.
“O primeiro passo é estabelecer uma reserva de liquidez, que funcione como um colchão para emergências e despesas de curto prazo. Com isso, o restante do portfólio pode ser distribuído entre diferentes classes de ativos, como renda fixa, ações e investimentos alternativos. O equilíbrio entre proteção e crescimento é essencial, ajustando-se ao perfil do investidor”, completa Guimarães.
A Fundação Nobel demonstrou que mais da metade do seu capital é alocada em ações. Palomo acredita que esse enfoque evidencia a confiança na capacidade de crescimento econômico das empresas ao longo do tempo. “Nos horizontes de longo prazo, é normal que o capital destinado ao crescimento se posicione em ativos que estão ativamente envolvidos na economia, mesmo que isso gere volatilidade no curto prazo”, argumenta.
A planejadora financeira alerta para a necessidade de aceitar que o crescimento sustentável exige uma dose de incerteza. “É fundamental entender que o potencial de ganhos robustos vem acompanhado do risco inerente”, destaca.
O que o Prêmio Nobel ensina sobre sucessão patrimonial?
Um dos maiores ensinamentos da Fundação Nobel é a importância da continuidade e da governança. “O essencial é ter uma estrutura que sobrevive às pessoas, com regras claras sobre como o patrimônio deve ser administrado e distribuído ao longo do tempo. Tal abordagem é crucial para famílias que aspiram a perpetuar não apenas recursos, mas também valores”, reforça Palomo.
Quando conduzida com consciência e propósito, a gestão da herança pode se converter em um “instrumento de impacto contínuo”, capaz de atravessar gerações sem perder sua essência de servir a um propósito maior. No planejamento sucessório, a CEO da Alocc enfatiza que o foco deve ser na estruturação sustentável e previsível do patrimônio. “Isso inclui diversificação, liquidez adequada e instrumentação jurídica que assegure a continuidade”, conclui Guimarães.