O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aceitou nesta segunda-feira, dia 15, a denúncia do Ministério Público contra a deputada estadual Lucinha e sua ex-assessora, Ariane Afonso Lima. Ambas passaram a ser tratadas como rés em um processo que envolve supostas ligações com a milícia de Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho.
Segundo o Ministério Público, a parlamentar e sua ex-assessora faziam parte do grupo político que manteve relações com a milícia. Mensagens interceptadas pela Polícia Federal revelaram que Lucinha era chamada de “madrinha” por membros do grupo, devido a supostas facilidades e ajudas que oferecia.
Em sua nota, o Órgão Especial do Tribunal detalhou que a deputada e a ex-assessora estão sendo acusadas de envolvimento com a organização criminosa conhecida como “Tropa do Z”, “Bonde do Zinho” ou “Família Braga”. Essa milícia é atuante em diversos bairros da Zona Oeste do Rio, como Campo Grande, Paciência, Cosmos, Inhoaíba, Guaratiba e Santa Cruz.
Zinho, que foi considerado o miliciano mais procurado do Rio, se entregou às autoridades em dezembro de 2023. Neste mês de junho, a Justiça decidiu que ele permanecerá sob custódia em um presídio federal de segurança máxima em Brasília.
As investigações apontam que a milícia estava organizada em diferentes núcleos. Havia lideranças principais, lideranças locais com influência nas áreas dominadas, e assessores, que eram informantes ou ‘soldados’ do grupo, responsáveis por manter relacionamentos com as forças de segurança e realizar tarefas de patrulha e segurança.
Além desses, foram identificados dois outros núcleos: um voltado para a lavagem de dinheiro e outro focado em proteger os interesses da milícia junto aos órgãos públicos, do qual Lucinha e Ariane faziam parte. O objetivo desse núcleo político era garantir a proteção e os interesses da milícia dentro do sistema governamental.
A denúncia relata que a interferência da deputada e sua ex-assessora em questões políticas foi evidente em vários episódios. Um deles ocorreu em julho de 2021, quando elas repassaram informações sobre a agenda de visitas do prefeito do Rio, Eduardo Paes, à Zona Oeste. Isso permitiu que os milicianos retirassem seus integrantes das ruas antes das visitas.
Outra tentativa de interferência se deu com o objetivo de manter a chamada “Brecha da P5”, que diz respeito ao transporte público alternativo na cidade. Esse aspecto é crucial, pois representa uma importante fonte de renda para a milícia, permitindo que eles explorassem serviços fora do itinerário oficial, aumentando a receita das vans.
Em novembro de 2021, a deputada também foi acusada de oferecer ajuda a membros do “Bonde do Zinho” que foram presos em flagrante, tentando garantir a liberdade deles.
Lucinha e Ariane devem enfrentar acusações de formação de milícia privada, cujo tempo de pena pode variar entre 5 e 10 anos, além de multa e a possibilidade de perderem seus cargos. A assessoria da deputada foi contatada, mas até o momento não houve retorno sobre o assunto.

