O agronegócio brasileiro está passando por mudanças importantes, especialmente nas áreas de logística e transformação da produção. Rogério Stallone, sócio responsável pela área de crédito corporativo do BTG Pactual, destaca que as melhores oportunidades nesse setor estão “da porteira para fora”, ou seja, concentradas em como os produtos são transportados e processados.
Recentemente, o BTG Pactual realizou um investimento significativo nos terminais portuários de Paranaguá, no Paraná, compromisso que deverá beneficiar o escoamento de produtos agrícolas. Esse investimento é parte de um plano maior, que inclui a participação do banco em uma captação de R$ 10 bilhões pela Cosan, um importante grupo do setor.
Apesar do cenário desafiador, com um aumento da inadimplência e do número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio, Stallone acredita que os fundamentos do setor permanecem robustos. Ele explica que o Brasil é um dos países com menor custo de produção agrícola e garante que a carteira de crédito do BTG é defensiva, focando sempre em produtores de alta qualidade.
No entanto, a recuperação judicial tem sido um tema polêmico. Stallone observa que algumas empresas podem estar utilizando este recurso para conseguir abatimentos nos valores de dívidas de maneira inadequada. Ele ressalta que esse mau uso pode gerar consequências negativas para todo o setor, elevando os custos de crédito e diminuindo as condições oferecidas pelos bancos.
As oportunidades que estão surgindo no agronegócio estão ligadas principalmente ao investimento em infraestrutura. O BTG investiu R$ 855 milhões nos terminais de Paranaguá, com previsão de que o total de investimentos na área chegue a R$ 2,4 bilhões. Isso ajudará a escoar uma produção crescente de soja, milho e outras mercadorias.
Para otimizar a logística, o BTG quer explorar possibilidades de produção local, como a fabricação de etanol no Nordeste a partir de milho, reduzindo a dependência de produtos que vêm de outras regiões.
O BTG também tem uma presença significativa no setor agrícola brasileiro, atuando tanto com pequenos quanto com grandes produtores. O banco participa da coordenação de ofertas públicas de capital e possibilita o acesso a instrumentos de financiamento, como os Certificados de Recebíveis do Agronegócio, que compõem uma parte importante do financiamento do setor.
Atualmente, cerca de 15 a 20% do agronegócio é financiado pelo mercado de capitais, enquanto 50% vêm de bancos e 30% de programas governamentais. Stallone destaca que a antiga dependência de linhas de crédito subsidiadas está desaparecendo, sendo que essas opções agora se limitam principalmente aos pequenos produtores que competem em condições difíceis.
O BTG tem como meta que sua participação no agronegócio corresponda à proporção que este setor representa no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que está entre 25% e 30%. O banco demonstra interesse em manter uma forte atuação no agronegócio, participando de feiras importantes e eventos do setor.
Por fim, Stallone enfatiza que o agronegócio brasileiro está em constante transformação e que as cidades que antes eram simples vilarejos estão se desenvolvendo com infraestrutura moderna, como escolas, universidades e shoppings, tudo isso impulsionado pelo crescimento do setor agrícola.