Vince Gilligan retorna à televisão com a nova série “Pluribus”, após o sucesso de “Breaking Bad” e “Better Call Saul”. Nesta obra, ele revisita temas que marcam sua carreira, agora em um contexto de ficção científica, filosofia e drama moral. “Pluribus” é ambientada em um futuro próximo, onde a humanidade decidiu compartilhar suas consciências, colocando em questão as fronteiras entre o individual e o coletivo.
O título da série é inspirado na expressão latina “E pluribus unum”, que significa “De muitos, um”. Este conceito reflete o experiência central da trama, em que as consciências humanas são conectadas, inicialmente promovendo uma utopia de empatia. Contudo, à medida que avança, a história revela que essa conexão também traz à tona traumas, segredos e impulsos destrutivos, resultando em um colapso da identidade individual.
A protagonista, interpretada por Rhea Seehorn, é uma neurocientista que se propõe a resolver os problemas da sociedade moderna. No entanto, o desenvolvimento de seu projeto a faz perceber que a união das mentes não é tão simples e acaba envolvendo a disseminação de sofrimento e dor coletiva. Gilligan explora, assim, os temas da culpa e da responsabilidade sob uma nova perspectiva existencial. Ele questiona o que acontece quando a empatia se torna uma obrigação, sem oferecer respostas fáceis.
Visualmente, “Pluribus” impressiona com sua direção de fotografia que utiliza paletas metálicas e configurações estéreis, gerando um clima de frieza tecnológica e isolamento emocional. A trilha sonora, com sons sutis e sintéticos, remete a batimentos cardíacos, simbolizando a fusão entre o humano e o tecnológico. O ritmo dos episódios é desacelerado, característica marcante do estilo de Gilligan, criando uma crescente tensão que culmina em momentos de intenso impacto.
A série também aborda questões profundas como livre-arbítrio e ética, levando o público a refletir sobre a importância da individualidade. Algumas sequências se assemelham a ensaios audiovisuais, o que pode surpreender ou desviar parte da audiência. Entretanto, a densidade das ideias é equilibrada com um roteiro que mantém a emoção humana presente.
O desempenho de Rhea Seehorn é notável, com uma interpretação que mistura vulnerabilidade e força, complementada pelas atuações de Giancarlo Esposito e Toni Collette, que adicionam peso à narrativa. O final de “Pluribus” é agridoce e aberto, deixando o espectador refletindo sobre a natureza da conexão humana e se a sociedade está realmente pronta para um tipo tão profundo de ligação.
“Pluribus” se destaca como uma ficção científica que, ao invés de se apoiar em explosões e ação, investe em questões filosóficas sobre a condição humana. A série é um convite para uma reflexão sobre o que significa existir como parte de um coletivo, trazendo à tona o medo de se perder nesse processo.
De forma geral, “Pluribus” é considerada uma obra densa e elegante, que reafirma o talento de Vince Gilligan em criar histórias que vão além da superfície, focando em ética, moralidade e a complexidade da experiência humana.

