O ano de 2025 marca uma transformação significativa na economia da Argentina sob a liderança de Javier Milei. Após um ano de 2024 marcado por uma severa recessão, os indicadores econômicos começaram a mostrar sinais de recuperação, embora ainda estejam sujeitos ao controle de organismos internacionais e à volatilidade do mercado cambial.
A confiança na economia argentina aumentou consideravelmente. Em 17 de dezembro, a agência S&P Global elevou a classificação de crédito soberano do país de “CCC” para “CCC+”, refletindo a capacidade melhorada de honrar suas dívidas. A S&P destacou como fatores chave a melhoria na liquidez e a diminuição das vulnerabilidades econômicas, especialmente após as eleições legislativas de meio de mandato e a desaceleração da inflação.
Superávit nas contas públicas
Em 2025, a Argentina conseguiu registrar superávits primários consecutivos, encerrando um ciclo de 14 anos com as contas públicas no azul. O governo de Milei implementou uma política fiscal rigorosa, com um superávit primário projetado entre 1,6% e 1,8% do PIB. Esse resultado foi alcançado por meio de cortes significativos nos subsídios a energia e transporte, além da redução na estrutura do setor público, que incluiu a dispensa de até 50 mil servidores.
Inflação em declínio
A inflação, que ultrapassou 200% ao ano no início do governo Milei, foi reduzida para índices mensais entre 2% e 3% na maior parte de 2025. Em novembro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) indicou uma alta de 2,5%, acumulando 31,4% nos últimos 12 meses, conforme dados do Instituto Nacional de Estatísticas (Indec). Essa queda na inflação foi sustentada principalmente pelos preços da carne, transporte e energia. Apesar de uma leve aceleração nos últimos meses devido à retirada de subsídios, a situação econômica é considerada estável em comparação ao cenário hiperinflacionário anterior.
Projeções do Itaú BBA indicam que a inflação pode fechar 2025 em 30,5%, com uma expectativa de queda para 20% em 2026. Por sua vez, o Fundo Monetário Internacional (FMI) é mais cauteloso e espera uma inflação anual de 41,3% para 2025, com uma desaceleração prevista para 16,4% em 2026.
Fim da recessão
O PIB argentino também demonstrou sinais de recuperação em 2025, com projeções de crescimento entre 4,5% e 5,5%. Os setores do agronegócio, mineração e energia emergiram como motores dessa recuperação. Dados recentes, relativos ao terceiro trimestre, mostram um crescimento de 3,9% em relação ao trimestre anterior, levando o Itaú BBA a revisar suas previsões de crescimento para 4,3% em 2025. Este cenário reflete uma melhoria gradual na confiança do consumidor e na demanda por crédito.
Impacto social
A política fiscal austera do governo Milei teve um impacto significativo no bem-estar da população. O índice de pobreza, que alcançou um pico de 52,9% em 2024, diminuiu para 31,6% em 2025, conforme relatado pelo Indec. Essa redução é atribuída à queda da inflação e a iniciativas de transferência direta de renda, que ajudaram a diminuir a indigência, que caiu para 5,4% no terceiro trimestre.
Ajuste fiscal e reservas
A administração de Milei se baseou em uma disciplina fiscal rigorosa, mas a sustentabilidade desse modelo requer um aumento nas reservas do país. Em abril de 2025, o FMI aprovou um novo programa de US$ 20 bilhões para apoiar os esforços de estabilização. No entanto, a instituição enfatizou que a Argentina precisa acumular reservas adicionais para facilitar seu acesso aos mercados de capitais internacionais, conforme declarou a porta-voz do FMI, Julie Kozack.
Aval das urnas e nova política cambial
As eleições legislativas de meio de mandato, realizadas em outubro, funcionaram como um referendo político sobre as reformas de Milei. Apesar da pobreza em níveis críticos, a coalizão La Libertad Avanza expandiu sua representação no Congresso, sinalizando apoio da classe média para as mudanças propostas. Em dezembro, o governo anunciou a etapa mais aguardada pelos investidores: a gradual eliminação do “cepo” cambial, uma medida que foi bem recebida pelo Bank of America, que classificou os ativos argentinos como overweight.
Expectativas para 2026
Com vistas a 2026, o foco será a flexibilização completa do controle cambial. A previsão é de que, a partir de então, os limites de variação do peso sejam ampliados para acompanhar a taxa de inflação mensal. Considerando a alta de 2,5% em novembro, essa mudança proporcionará maior realismo à moeda e flexibilidade ao mercado financeiro, aproximando a Argentina de um sistema de câmbio flutuante.

