(Reuters) – O diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, declarou nesta quarta-feira, durante um seminário do JP Morgan em Washington, que a recente desaceleração da atividade econômica no Brasil indica que a política monetária está em operação. Segundo ele, essa atividade, que se encontra em um “platô”, é um sinal positivo de que as medidas adotadas estão surtindo efeito.
Apesar das indicações de desaceleração, David enfatizou que a inflação continua a ser uma preocupação significativa para a instituição, prevendo que não deve apresentar quedas nos próximos meses. “A atividade econômica atingindo um platô ou desacelerando um pouco é um sinal de que a política monetária está funcionando. Estamos observando isso”, afirmou. No entanto, ele adicionou que “não esperamos que a inflação diminua nas próximas semanas ou meses”.
Os dados sobre a atividade econômica, representados pelo Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), mostraram uma alta de 0,4% em fevereiro, desacelerando em relação ao crescimento de 0,9% registrado em janeiro. Em contrapartida, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acelerou para 5,48% em março, frente a 5,06% do mês anterior. A meta oficial de inflação é de 3,0%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
David também destacou que há um consenso dentro do Banco Central sobre a necessidade de manter a taxa básica de juros em seu atual patamar de 14,25% ao ano, o que é considerado um cenário contracionista. “Estamos em território contracionista”, reiterou ele.
Na reunião mais recente de política monetária, o Banco Central optou por aumentar a Selic em 1 ponto percentual pelo terceiro encontro consecutivo, com a indicação de que próximo ajuste será de menor magnitude.
O diretor também mencionou a incerteza no cenário internacional, exacerbada por tensões comerciais e tarifas implementadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Isso dificulta a previsão de futuras movimentações da Selic. “Para fornecer uma orientação, é necessário ter clareza sobre as metas. No momento, estamos longe disso”, disse David, explicando que a incerteza complica o controle da inflação.
O objetivo do Banco Central é manter a inflação dentro da meta, buscando minimizar custos para a sociedade. Contudo, uma demora na convergência dos preços pode resultar em distorções permanentes e onerosas no longo prazo.
Intervenções Cambiais
Durante o seminário, David também defendeu a necessidade de ferramentas diversas para responder a situações em que o mercado de câmbio apresenta disfuncionalidades. Ele reiterou que, apesar de o câmbio ser flutuante, as reservas internacionais desempenham um papel protetor em momentos críticos.
Em dezembro do ano passado, o Banco Central vendeu 32,6 bilhões de dólares ao mercado, envolvendo operações de linha e vendas de moeda sem compromisso de recompra, em resposta a uma disparada do dólar. Esta desvalorização da moeda foi impulsionada pela reação negativa do mercado aos anúncios do governo relacionados a medidas de contenção de gastos e reformas tributárias, levantando preocupações sobre o controle das contas públicas.