A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira, 11 de outubro, indicou a continuidade da taxa de juros em 15%. O documento ressalta preocupações com as expectativas de inflação em prazos mais longos, ao mesmo tempo em que aponta para uma desaceleração moderada da atividade econômica, o que justifica a manutenção da taxa. No entanto, a interpretação das diretrizes do Copom leva economistas a posicionamentos distintos sobre o início dos cortes, previsto para 2026.
O economista Rodolfo Margato, da XP, observou que a comunicação do Copom sugere uma possível flexibilização monetária a partir de março de 2026, com a expectativa de seis cortes consecutivos de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, encerrando o ano em 12%. Margato destacou que o comitê deseja evitar discussões de mercado sobre cortes imediatos.
Em relação à atividade econômica, Margato enfatizou a relevância dos recentes estímulos fiscais, especialmente a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para rendimentos até R$ 5 mil. Segundo suas análises, essa mudança pode influenciar o hiato do produto, que é a diferença entre o Produto Interno Bruto (PIB) real e o potencial.
O Copom manteve a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2026 em 3,6%. Margato esperava um leve recuo para 3,5%. Ele acredita que a estimativa do hiato do produto pode ter aumentado cerca de 0,2 pontos percentuais, impactando em aproximadamente 0,1 ponto percentual na projeção de inflação.
A análise do Itaú, sob a supervisão do economista-chefe Mario Mesquita, corroborou essa perspectiva, mencionando que a inclusão da isenção do Imposto de Renda nas estimativas reduz os riscos de alta futura. O banco observa que essa questão foi central nas discussões do mercado. Os investidores estão apostando na possibilidade de cortes já em janeiro, embora mudanças na comunicação do Copom em dezembro sejam aguardadas para viabilizar essa expectativa.
A economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, complementou essa avaliação, notando que a ata confirmou um tom mais ameno do que o anterior. Ela destacou as projeções moderadas da atividade econômica e os efeitos positivos das commodities e do câmbio sobre a inflação. Para o próximo encontro, Pinheiro sustenta que a taxa atual é considerada suficiente para alcançar a meta de inflação e que a manutenção por um período prolongado é a expectativa.
André Valério, do Inter, notou a importância da interação do Banco Central com as mudanças no Imposto de Renda. Ele alertou que os estímulos podem fazer com que a demanda se torne menos sensível à taxa de juros, o que poderia exigir um maior prêmio de risco e aumentar o custo de desinflação da economia.
Possibilidade de Flexibilização
A expectativa do Inter é que o Copom inicie cortes em janeiro, com uma redução de 25 pontos base. A projeção é de que o cenário de inflação esteja alinhado com a meta, o que, combinado com uma desaceleração da economia, cria a base necessária para essa mudança.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, enfatizou a importância do trecho na ata onde o BC expressa maior confiança de que a taxa atual é suficiente para garantir a meta de inflação. Ele observou que, embora o parágrafo que ressalta a possibilidade de altas futuras permaneça, o documento deixa espaço para discussões sobre flexibilização em janeiro.
Embora um corte imediato ainda pareça improvável, os cenários projetados para 2024 indicam a possibilidade de inícios de cortes em janeiro ou março, com expectativas de fechamento da taxa em torno de 11% ao final do ano. Daniela Lima, da Kinea, adotou uma visão mais conservadora, prevendo cortes a partir de março, desde que haja evidence suficiente para tal decisão.
Por fim, Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, caracterizou a ata como “hawkish” com viés de estabilidade, ressaltando a confiança do Banco Central nas políticas atuais, enquanto ainda demanda uma postura restritiva por um período considerável.

