O endividamento das famílias brasileiras alcançou 49,3% em outubro, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (26) pelo Banco Central (BC). O total de crédito no país atingiu a marca histórica de R$ 7 trilhões, enquanto as taxas médias de juros para pessoas físicas dispararam para 59,4% ao ano, o maior patamar observado desde 2017.
O especialista em crédito e riscos, Jorge Azevedo, atribui esse cenário ao fácil acesso ao crédito, impulsionado por bancos digitais e novas regulamentações. “Estamos observando um aumento na relação de crédito sobre o PIB. O Brasil está em níveis próximos a 60%, enquanto nos Estados Unidos esse número atinge 180%”, compara Azevedo. Ele esclarece que o endividamento, quando é considerado “dívida boa” – aquela que gera renda, como o financiamento de um veículo para trabalho – não é necessariamente negativo.
Uma das inovações que facilitam o acesso ao crédito é o empréstimo consignado, disponível para trabalhadores com carteira assinada (CLT), microempreendedores individuais (MEI) e motoristas de aplicativo por meio do programa Crédito do Trabalhador. Um estudo do Banco Daycoval revelou que as concessões de crédito nesse formato aumentaram 257% em um ano, passando de R$ 1,6 bilhão para mais de R$ 6 bilhões por mês. Contudo, a taxa de juros desse tipo de empréstimo também subiu, com uma variação de 18% nos últimos 12 meses. Para novembro, a previsão do BC é que os juros alcancem a média de 57,1%.
Crédito Consignado Privado em Alta
O crédito consignado para trabalhadores do setor privado, MEIs e motoristas de aplicativo é o principal motor desse crescimento. Com a implementação do programa Crédito do Trabalhador em março deste ano, a renda mensal das concessões disparou, refletindo um aumento significativo na demanda. No entanto, essa facilidade vem acompanhada de um custo elevado, pois a taxa de juros dessa modalidade subiu de 39,1% em novembro de 2024 para 44% após a reformulação do programa. A projeção do BC indica um aumento ainda maior, chegando a 57,1% em novembro.
“Com juros altos e salários que não acompanham a inflação, haverá uma tendência de aumento da inadimplência”, observa Azevedo.
Cenário Econômico para 2026
Para o próximo ano, analistas projetam um “cabo de guerra” econômico. O Banco Daycoval prevê que a manutenção da taxa Selic em 15% até março de 2026 dificultará o consumo. Em contrapartida, a nova faixa de isenção do Imposto de Renda (IRPF) para salários de até R$ 5 mil poderá proporcionar um alívio no orçamento familiar a partir de janeiro.
De acordo com economistas do Daycoval, “a dinâmica do crédito das pessoas físicas será influenciada por esse choque de renda, com a demanda concentrando-se em crédito habitacional (26%), consignado (24%) e cartões de crédito (19%)”. Além disso, a expectativa é que essa injeção adicional de renda ajude a estabilizar a taxa de inadimplência, atualmente em 6,3% para contas com mais de 90 dias de atraso.

