Na próxima quarta-feira, 29 de novembro, o Federal Open Market Committee (FOMC) dos Estados Unidos deve anunciar um corte de juros de 0,25 ponto percentual. A expectativa, divulgada pelo Banco Inter, ocorre em meio à falta de dados oficiais devido à paralisação do governo. Essa situação reforça a necessidade de buscar informações alternativas para avaliar a economia.
André Valério, coordenador de pesquisa macroeconômica do Banco Inter, ressalta que, mesmo com o apagão de dados, a previsão é que ocorra uma redução de juros em outubro e dezembro. Ele também alerta que a extensão do shutdown pode intensificar os riscos econômicos e justificar uma postura mais restritiva do banco central. Para 2026, a possibilidade de novos cortes dependerá de sinais adicionais de fraqueza no mercado de trabalho.
Desde 1º de outubro, o governo dos EUA encontra-se em paralisação, uma vez que o Congresso não conseguiu aprovar o orçamento fiscal de 2026. Somente serviços essenciais permanecem em operação, e a coleta de estatísticas socioeconômicas foi suspensa.
Valério afirma que os dados acessíveis indicam que o cenário econômico que prevalecia antes da paralisação continua, com alguns sinais de queda na criação de empregos e outros sem evidências de deterioração. Informações da empresa ADP, que monitora a folha de pagamento no setor privado, mostram que em setembro houve uma redução líquida de 32 mil empregos, refletindo uma “tendência clara de queda”, segundo Valério.
O índice de emprego temporário da American Staffing Association registra um leve crescimento de 1,2% nas contratações de trabalhadores temporários em outubro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Este índice é considerado um indicativo das vagas formais de emprego, já que trabalhadores temporários geralmente são os primeiros a ser demitidos em períodos de desaceleração econômica. De acordo com Valério, a incerteza gerada por tarifas pode ter levado as empresas a optar por mão de obra temporária até que as condições econômicas se estabilizem.
O Federal Reserve de Chicago continua a coletar dados sobre o mercado de trabalho, apesar do shutdown. As informações mais recentes mostram que a taxa de desemprego em setembro variou de 4,32% para 4,34%, e a taxa de admissão cresceu de 2,09% para 2,10%.
Pressão Inflacionária
Valério também destaca que persistem pressões inflacionárias relacionadas às tarifas. Os dados do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) sinalizam uma reaceleração na inflação de bens. Além disso, os preços pagos pelas indústrias indicam que os custos devem continuar a ser repassados, o que pode elevar a inflação para além de 3% ao ano.
O índice oficial de inflação para setembro, no entanto, ficou abaixo do esperado, um resultado que pode ser atribuído à dinâmica compensatória, com a desinflação nos serviços, especialmente em aluguéis, neutralizando a pressão de alta impulsionada pelas tarifas.
PIB Resiliente
Embora haja pressão sobre a inflação, o PIB dos Estados Unidos demonstra uma resiliência significativa. Valério observa que, embora o mercado de trabalho tenha desacelerado nos últimos meses, isso não se refletiu negativamente na atividade econômica.
A estimativa do PIB do terceiro trimestre elaborada pelo Fed de Atlanta aponta para um crescimento anualizado de 3,9%. O índice de atividade econômica semanal do Fed de Dallas sugere a continuidade da vigorosa atividade econômica.
Valério acredita que o Fed deverá implementar os cortes de 25 pontos base em cada reunião até o final do ano. Entretanto, o cenário atual não indica uma necessidade premente de apoio por parte da política monetária, o que torna as previsões para os juros em 2026 mais incertas. O Fed planeja um novo corte em 2026; no entanto, isso dependerá da evolução do mercado de trabalho.

