O IPCA-15, que mede a prévia da inflação, registrou uma alta de 0,18%, abaixo do que era esperado. Essa variação foi influenciada por uma queda nos preços de alimentação em domicílio, especialmente em carnes e itens in natura, o que ajudou a suavizar o impacto dos aumentos em energia elétrica e serviços.
A tendência de desaceleração da inflação é percebida nos núcleos de preços, que seguem abaixo das expectativas. Isso indica que os esforços para controlar a inflação estão começando a mostrar resultados mais consistentes. Segundo Leonardo Costa, economista do ASA, ainda que a desaceleração seja significativa, ela deve ser analisada com cautela. “O núcleo de serviços apresentou fraqueza por dois meses seguidos, o que é positivo, mas pode ser influenciado por promoções temporárias, como as de ingressos de cinema”, afirma.
Em relação ao cenário inflacionário, o economista Felipe Queiroz, da Associação Paulista de Supermercados (Apas), destaca que, ao longo dos últimos 12 meses, a inflação caiu pela primeira vez para menos de 5% e pode terminar o ano ligeiramente acima de 4,5%.
Desaceleração da Alimentação em Domicílio
Queiroz observa que a queda nos preços de alimentos tem sido essencial para a desaceleração geral da inflação. Produtos fundamentais, como arroz (-1,37%), leite, ovos (-3%) e cebola têm mostrado recuo, o que beneficia especialmente as famílias de menor renda.
Impacto dos Bens Industrializados
A redução nos preços dos bens industrializados foi notada, com destaque para artigos de residência e uma nova deflação nos seguros de veículos. O Departamento de Pesquisas Econômicas do Banco Daycoval ressaltou que, exceto pelo etanol, que teve alta significativa, a maioria dos itens dessa categoria apresentou quedas nos preços.
Segundo Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, essa deflação pode estar atrelada à alta de preços na China, o que levanta preocupações sobre os preços ao consumidor e no atacado.
Análise da Inflação
A queda nos preços de alimentação e bebidas (-0,02%) foi a principal responsável pela desaceleração. Esses itens, que já apresentavam deflação por cinco meses consecutivos, mostraram diminuições em produtos como carnes e leite, enquanto frutas e óleo de soja tiveram altas moderadas. No setor de habitação (+0,16%), a energia elétrica residencial caiu 1,09%, após uma alta significativa em setembro devido à bandeira vermelha patamar 1.
Transporte (+0,41%) e despesas pessoais (+0,42%) foram os grupos que mais contribuíram para o resultado da inflação de outubro, impulsionados majoritariamente pelos combustíveis, especialmente etanol (+3,09%) e gasolina (+0,99%).
Queiroz prevê que a tendência de queda na inflação deva continuar, impulsionada pela safra recorde de grãos, favorecendo preços mais acessíveis aos consumidores. Ele também aponta que a valorização do real frente ao dólar deve ajudar a controlar a inflação, prevendo um final de ano mais favorável para o poder de compra.
Perspectivas para a Selic
De acordo com Nicolas Gass, da GT Capital, o Banco Central deve manter sua perspectiva de corte na taxa de juros, previsto para o primeiro trimestre do próximo ano. Pablo Spyer, conselheiro da Ancord, ressalta que, apesar da moderação da inflação, a composição dos preços ainda demanda atenção, especialmente no setor de serviços, que exerce pressão sobre a política monetária.
Por sua vez, André Valério, economista sênior do Inter, afirma que os dados de outubro reforçam a tendência de desinflação na economia brasileira. A expectativa é de que essa tendência se mantenha nos próximos meses, com menos pressões nos preços de combustíveis e energia. A projeção é de que o IPCA encerre 2025 com uma alta acumulada de 4,7%, e que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie cortes nas taxas de juros em janeiro.

