A prévia da inflação oficial do Brasil, divulgada nesta terça-feira (23), indica que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve permanecer dentro da margem de tolerância ao final de 2025. Entretanto, a situação dos preços nos serviços levanta preocupações ao Banco Central.
Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) revelaram uma alta de 0,25% em dezembro, uma leve aceleração em relação aos 0,20% registrados em novembro. Ao longo do ano, a inflação acumulada foi de 4,41%, que se mantém abaixo do limite de tolerância de 4,5%, mas está aquém da meta estabelecida de 3%.
| Mês/Ano | IPCA-15 |
|---|---|
| Dezembro de 2025 | 0,25% |
| Novembro de 2025 | 0,20% |
| Dezembro de 2024 | 0,34% |
| Acumulado no Ano | 4,41% |
Mariana Rodrigues, economista da SulAmérica Investimentos, destaca que, apesar da projeção da inflação para 2025 ficar abaixo da banda superior da meta, existem fatores qualitativos que não apoiam essa perspectiva otimista. Um dos principais obstáculos para a redução da taxa Selic é a inflação nos serviços, que, ao contrário dos alimentos, não apresenta a mesma volatilidade e é afetada pelas condições do mercado de trabalho, tendo uma tendência mais lenta de recuo.
Os economistas estão divididos quanto ao futuro da taxa de juros. Alguns ainda preveem cortes em janeiro, enquanto outros acreditam que mudanças podem ocorrer apenas em março. Gustavo Gonzaga, economista-chefe da Necton Investimentos, afirma que os últimos dados do IPCA-15 intensificam a cautela do Banco Central, reforçando a expectativa de cortes na Selic somente em março.
A composição do IPCA-15 para dezembro revela que o setor de Transportes foi o principal responsável pela inflação, impulsionado pelo aumento de 12,71% nas passagens aéreas, um fenômeno sazonal comum durante as férias. Por outro lado, a energia elétrica residencial apresentou uma deflação de 0,22%, proporcionando um alívio para o índice.
Dos nove grupos avaliados, sete apresentaram altas, com destaque para:
- Transportes: alta de 0,69%, influenciada pelas passagens aéreas.
- Combustíveis: aumento de 0,26%, revertendo o período recente de deflação.
- Habitação: alta de 0,17%.
Para o IPCA de dezembro, as projeções se mantêm em torno de 0,31%, segundo André Valério, economista sênior do Inter. Matheus Pizzani, do Picpay, observa que, apesar dos fatores sazonais, a falta de elementos que indiquem um desempenho positivo para a inflação de serviços não altera o cenário da política monetária. A expectativa é que a inflação permaneça em 4,4%, dentro do limite superior do Regime de Metas para Inflação (RMI), e que os cortes na Selic comecem em março.
Valério prevê um primeiro trimestre de 2026 com inflação reduzida, especialmente em comparação ao mesmo período de 2025, o que pode dar espaço para a Selic ser cortada no primeiro trimestre. Existem expectativas de que isso possa começar em janeiro, mas a cautela do Comitê de Política Monetária (Copom) sugere um possível adiamento para março.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, ressalta que a resistência da inflação de serviços gera uma situação desconfortável para o Banco Central, que precisa de dados mais favorecedores para iniciar a redução da taxa de juros. A continuidade do monitoramento dos índices de preços e do mercado de trabalho será crucial nos próximos meses.

