O Prêmio Nobel de Economia, anunciado nesta segunda-feira (13), ressalta a inovação como um motor essencial para o crescimento e desenvolvimento econômico. No Brasil, setores como petróleo, aviação e farmácia estão em destaque nesse contexto. No entanto, as elevadas taxas de juros, que restringem o investimento, e a falta de prioridade à ciência, evidenciada por contingenciamentos e escassez de recursos, são obstáculos significativos ao avanço do país.
Graziela Zucoloto, coordenadora-geral de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Ipea, analisa a situação atual. Embora o Brasil seja classificado como uma economia de renda média com investimentos moderados em pesquisa e desenvolvimento (P&D), ela aponta que já existem avanços expressivos em áreas estratégicas.
No setor de petróleo, o Brasil se destaca pelas inovações no pré-sal. Na aviação, a Embraer se protegeu contra as tarifas impostas por Donald Trump por meio de investimentos robustos. A coordenadora também menciona o crescimento do setor farmacêutico, com foco no desenvolvimento de medicamentos genéricos.
“No histórico de investimento em relação ao PIB, o Brasil se manteve próximo a valores observados em países da OCDE”, afirma Zucoloto. Ela ressalta que a política pública é um fator determinante, referindo-se não apenas à inovação para o mercado global, mas também àquela voltada para atender às necessidades nacionais.
Zucoloto explana a importância da “destruição criativa”, um conceito que se conecta à inovação sustentável no Brasil. Essa abordagem implica em substituir processos e tecnologias tradicionais por novos modelos, um conceito que ressoa com os desafios ambientais atuais. O país apresenta um potencial considerável em segmentos sustentáveis, como a energia, e a capacidade de adotar tecnologias, embora muitas vezes não sejam de origem nacional.
Apesar dessas oportunidades, o Brasil precisa superar diversas barreiras que limitam o seu potencial inovador:
- Altas taxas de juros: Zucoloto destaca que a história de taxas elevadas impede o investimento em novos processos e tecnologias.
- Políticas públicas inconsistentes: A falta de continuidade nas medidas de apoio à indústria gera incertezas e obstáculos ao desenvolvimento.
- Regulação inadequada: A execução de tecnologias ambientais frequentemente depende de exigências regulatórias que podem ser contestadas por lobbies.
- Corte de investimentos em ciência e tecnologia: O Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), essencial para a pesquisa no Brasil, é um dos primeiros a sofrer cortes orçamentários, o que compromete o futuro da inovação.
Embora a inovação seja fundamental para o crescimento econômico, Zucoloto observa que ela não garante automaticamente a redução da desigualdade ou o avanço social. Algumas inovações podem resultar em maior concentração de renda ou em impactos ambientais negativos.
O foco deve ser em políticas públicas que promovam inovações que, além de gerar crescimento, melhorem o bem-estar social e as condições de saúde da população.