A partir de novembro, inicia-se o pagamento do 13º salário, injetando cerca de R$ 321,4 bilhões na economia brasileira até o final de dezembro, conforme informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Esse montante, o que equivale a aproximadamente 3% do PIB nacional, será distribuído entre 92,2 milhões de trabalhadores. O rendimento médio adicional será de R$ 3.096,78. Contudo, especialistas alertam que, diante das promoções de fim de ano e das altas taxas de crédito, essa renda extra pode se converter em passivo financeiro. Portanto, é fundamental que o entusiasmo com o 13º salário seja acompanhado de cuidadoso planejamento financeiro.
O Procon-SP orienta que os consumidores mantenham a cautela e evitem compras impulsivas, já que as condições de crédito permanecem desfavoráveis, mesmo com a taxa Selic fixa em 15% ao ano. A taxa média do empréstimo pessoal aumentou para 8,16% ao mês, enquanto o cheque especial se mantém a 8%, o limite máximo estipulado pelo Banco Central.
A diretora adjunta de estudos e pesquisas do Procon-SP, Elaine da Cruz, ressalta a importância de avaliar a real necessidade antes de efetuar compras: “O cenário mostra que o crédito segue caro. Se for necessário se endividar para comprar, o desconto pode sair bem mais caro”, alerta ela. Especialistas recomendam que o 13º salário seja utilizado primeiramente para quitar dívidas existentes antes de assumir novas obrigações financeiras.
Planejamento Financeiro
O economista Ahmed Khatib, professor de finanças na Fecap e na Unifesp, destaca que o 13º salário não deve ser encarado como “dinheiro extra”, mas sim como parte do orçamento anual. “A prioridade deve ser quitar dívidas caras. Utilizar o 13º para isso proporciona um retorno financeiro maior do que qualquer aplicação”, afirma Khatib.
Ele também aponta que o desafio vai além das contas, envolvendo questões emocionais. “O 13º é interpretado pelo cérebro como um prêmio, estimulando um forte desejo de consumo”, explica. Para evitar compras por impulso, o economista sugere adiar decisões por 48 horas e refletir sobre a necessidade real de cada compra. Khatib ainda recomenda reservar pelo menos 10% do valor do 13º para prazeres pessoais, enfatizando que ter uma reserva financeira promove saúde mental e tranquilidade.
Rodrigo Rocha, professor da Universidade Tiradentes (Unit), complementa a visão de Khatib. Ele acredita que o 13º pode ser uma oportunidade para equilibrar emoções e racionalidade. “Reconhecer os impulsos e definir prioridades transforma o dinheiro em uma ferramenta de equilíbrio e prosperidade”, afirma. Rocha também destaca a importância de celebrar as festividades de fim de ano de maneira moderada.
Dicas para Aplicar o 13º Salário
Para aqueles cujas finanças estão organizadas, o 13º salário pode ser utilizado como uma ferramenta estratégica. Economistas recomendam as seguintes abordagens:
- Quitar dívidas com juros altos antes de realizar novos gastos;
- Criar uma reserva de emergência ou investir em objetivos de longo prazo;
- Planejar o uso do dinheiro antecipadamente, distribuindo entre dívidas, poupança e lazer;
- Evitar comparações sociais durante festividades; gaste conforme sua realidade;
- Equilibrar razão e emoção, celebrando o final do ano sem comprometer o orçamento;
- Identificar gatilhos de consumo, como promoções irresistíveis ou pressões sociais;
Equilíbrio é Fundamental
Criado em 1962, o 13º salário é um direito de trabalhadores formais, rurais, domésticos e urbanas, bem como de aposentados e pensionistas do INSS. A primeira parcela deve ser paga até 30 de novembro e a segunda até 20 de dezembro.
Quando aplicado de forma estratégica, o 13º salário pode ser aquele impulso necessário para iniciar 2026 com as finanças organizadas, enfrentando gastos típicos desse período, como impostos e matrículas escolares. No entanto, sem um planejamento apropriado, essa renda extra em meio às festividades pode se converter em uma armadilha financeira. Unir raciocínio financeiro a inteligência emocional é a chave para transformar esse benefício em um instrumento de alívio e tranquilidade. “Usar o 13º de forma inteligente é começar o próximo ano com menos dívidas e mais paz financeira”, conclui Khatib.

