As montadoras chinesas BYD e GWM, que iniciaram operações no Brasil, afirmaram que a atual crise na cadeia de fornecimento de semicondutores não afetará suas linhas de produção. Ambas as empresas recebem chips de suas matrizes na China, garantindo o abastecimento de componentes cruciais para diversas funções dos veículos, incluindo gerenciamento de motor, sistemas de freios, airbags e entretenimento.
Em contraste, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) comunicou ontem ao governo sobre o risco de interrupções na produção de veículos em território brasileiro nas próximas duas a três semanas devido à escassez de semicondutores. A Anfavea destacou que uma crise geopolítica envolvendo a Nexperia, fornecedora de aproximadamente 60% de seus semicondutores à indústria automotiva, pode impactar o fornecimento desses componentes.
Embora a Anfavea alerte para os riscos, as montadoras GWM e BYD não são associadas à entidade. A GWM tranquilizou seus clientes ao afirmar que seu abastecimento é garantido pela matriz na China, e a BYD destacou sua estratégia de integração vertical, que permite a produção interna da maioria dos componentes essenciais.
A GWM, que iniciou a produção em agosto na antiga unidade da Ford em Iracemápolis, São Paulo, está fabricando SUVs Haval 6 e a picape Poer em várias versões. A empresa tem investido na ampliação do abastecimento de chips, firmando parcerias com fabricantes como a Horizon Robotics, renomada na produção de chips para direção inteligente e funcionalidades auxiliares de cabine. Além disso, adquiriu a Wuxi Xindong, expandindo sua atuação no setor de semicondutores.
Por outro lado, a BYD começou sua produção em outubro no Polo Petroquímico de Camaçari, onde serão fabricados veículos elétricos como o Dolphin Mini e híbridos como o Song e King. Recentemente, a BYD Semicondutores firmou um acordo estratégico com o Xiaomi Changjiang Industry Fund para impulsionar suas operações, atraindo também outros 30 investidores.
Outros setores que utilizam semicondutores, como os elétrico e eletrônico, ainda não relataram problemas de fornecimento. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) indicou que suas empresas associadas permanecem sem dificuldades, e Jorge Nascimento, executivo da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros), afirmou que não houve comunicação de falta de componentes entre seus associados.
A produção de semicondutores na unidade chinesa da Nexperia foi retomada, após um período de proibição de exportação imposto pelo governo chinês por causas relacionadas a uma disputa de propriedade intelectual com a Holanda. A empresa também decidiu realizar transações em yuan, buscando maior autonomia em relação à sua matriz.
As tensões entre a Nexperia e o governo holandês aumentaram quando este vetou a influência de acionistas chineses na empresa, citando riscos à segurança nacional. Em resposta, o governo chinês impôs restrições à exportação de componentes eletrônicos, impactando a produção automotiva na Europa. Um veículo moderno requer entre 1 mil e 3 mil chips, e a falta desses componentes pode paralisar a produção.

