No dia 1º de julho de 1994, o Brasil introduziu a moeda Real, que simbolizava mais do que uma simples mudança financeira: representava a promessa de conter a hiperinflação que avassalava o país. Na época, uma nota de R$ 1, que era verde, tinha um valor de compra que hoje é considerado irreal.
A implementação do Real teve impactos significativos não só na economia, mas também na vida social dos brasileiros. O economista Charles Mendlowicz, sócio da Ticker Wealth e reconhecido como Top 1 Influencer de Investimentos pela ANBIMA, relembra o caos da hiperinflação, quando as famílias eram obrigadas a ir ao mercado no dia do pagamento devido à desvalorização rápida do dinheiro. Mendlowicz afirma: “O Real trouxe algo que o brasileiro havia perdido: previsibilidade. Antes, a dinâmica era de sobrevivência. Com a estabilidade, tornou-se possível planejar o futuro e comparar preços com propósito, devolvendo dignidade ao dinheiro.”
Trinta anos após a criação do Real, o panorama econômico nacional mudou drasticamente. Embora a população brasileira não enfrente mais as oscilações da hiperinflação, a percepção de aumento de preços permanece, sugerindo que o problema vai além dos valores nas etiquetas.
O Salto do IPCA: R$ 1 Hoje Vale Centavos de 1994
Se você possui uma moeda de R$ 1 de 1994, saiba que hoje seu poder de compra é quase insignificante. Segundo dados do Banco Central, para manter o mesmo poder de compra que R$ 1,00 tinha em julho de 1994, seria necessário cerca de R$ 9,15 em dezembro de 2025.
Comparativo de Preços: 1994 vs. 2025
| Produto | Preços em Julho de 1994 (R$) | O que R$ 1 comprava | Preços Estimados para Dez/2025 (R$) |
| Pão Francês | R$ 0,09 | 11 pães | R$ 1,20 |
| Gasolina | R$ 0,55 | quase 2 litros | R$ 6,20 |
| Leite Longa Vida | R$ 0,65 | 1,5 litro | R$ 5,80 |
| Cerveja (lata) | R$ 0,45 | 2 latas | R$ 4,50 |
Descompasso entre Inflação e Salário
Apesar da continuidade do Real como moeda, a percepção de que o custo de vida é mais elevado se deve à disparidade entre a inflação e o crescimento da renda real. Nos últimos trinta anos, enquanto os preços dispararam, os salários médios não avançaram na mesma proporção.
A Armadilha da Produtividade
A produtividade do trabalho no Brasil permaneceu estagnada nos últimos três décadas. Quando a capacidade de produzir não avança, os aumentos salariais são rapidamente absorvidos pela inflação. Mendlowicz resume a situação: “Quando se juntam inflação alta, renda estagnada e crescimento baixo, fica claro que o aumento salarial não foi suficiente.”
Entre 1994 e novembro de 2025, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve subir mais de 700%. Em comparação, a produtividade por hora trabalhada avançou cerca de 0,8% ao ano, resultando em um crescimento acumulado de apenas 26% em quase 30 anos.
Os dados do Produto Interno Bruto (PIB) refletem essa disparidade: em valores correntes, o PIB passou de R$ 778 bilhões em 1996 para R$ 11,7 trilhões em 2024. Embora isso represente uma alta nominal de mais de 1.400%, o crescimento real, considerando a inflação, é de apenas 87%, com uma taxa anual de 2,2%, bem abaixo de economias emergentes como China e Índia.
Considerando o PIB per capita real, a evolução em 30 anos foi inferior a 40%, ou cerca de 1% ao ano, revelando as limitações nos ganhos salariais do brasileiro frente ao aumento dos preços.
Inflação de Serviços e Renda
Além disso, a chamada inflação de serviços, que inclui gastos com educação, saúde e aluguel, tende a crescer mais rapidamente do que o IPCA geral. A mais recente leitura do IPCA indicou uma elevação média de 4,46% nos preços, enquanto os serviços apresentam aumentos que variam de 5,37% a 6,56%, e algumas categorias superam até 7%.
Esses custos são fixos, consumindo cada vez mais dos orçamentos familiares e reduzindo o espaço para outras formas de consumo. Mendlowicz conclui que “não há vencedores nesta situação; o aumento desproporcional dos preços em relação aos salários e produtividade causa uma sensação de empobrecimento em grande parte da população.”

