Em declaração feita nesta segunda-feira (6) durante um evento da Fundação FHC, o ex-presidente do Banco Central e sócio-fundador da Gávea Investimentos, Armínio Fraga, analisou a situação atual da dívida pública brasileira, descrevendo-a como “complicada”. Fraga atribuiu as elevadas taxas de juros a uma política fiscal que considerou “suicida”. O evento também contou com a presença do atual presidente do BC, Gabriel Galípolo.
Fraga enfatizou que a política fiscal introduz um prêmio de risco nos investimentos e criticou as propostas de isenções tributárias apresentadas pelo governo, que, segundo ele, agravam a percepção de risco e aumentam a pressão sobre os juros. O economista afirmou que, sem uma “guinada” na política fiscal, o Banco Central não conseguirá estabilizar a economia isoladamente.
Segundo Fraga, “o tema fiscal é, de longe, o mais importante”. Ele argumentou que as taxas de juros são meros sintomas da situação econômica mais ampla, explicando que riscos associados a políticas fiscais dificultam investimentos.
O ex-presidente questionou Galípolo sobre a possibilidade de prorrogar o horizonte de convergência da meta de inflação, destacando a importância da abordagem “dosimetria” nesse contexto. Em resposta, Galípolo comparou a política de juros à administração cuidadosa de medicamentos, enfatizando que o Banco Central tem adotado uma abordagem gradual na definição da taxa Selic, evitando tanto o ajuste abrupto quanto a suspensão do tratamento ao primeiro sinal de melhora.
Galípolo também mencionou que as previsões de inflação no Boletim Focus não alinham com a meta em nenhuma projeção até 2028. Na edição mais recente do boletim, o mercado revisou a expectativa de inflação para 2025 para 4,8%, ainda acima da meta de 3%, que possui uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.