O cenário do emprego e renda no Brasil apresenta um paradoxo: embora o número de pessoas empregadas e a renda média estejam em níveis recordes, a desmotivação entre os trabalhadores atinge seu maior índice em três anos. De acordo com a pesquisa Engaja S/A, 61% dos profissionais se consideram desmotivados, o que pode resultar em um custo de até R$ 77 bilhões para as empresas devido à perda de produtividade e à rotatividade de funcionários.
Os dados foram coletados de uma amostra de 5.397 trabalhadores em todo o Brasil, evidenciando informações significativas sobre o engajamento no local de trabalho:
- 61% não se sente motivado no trabalho
- Custo estimado do desengajamento: R$ 77 bilhões
- Perda correspondente a 0,66% do PIB devido à desmotivação
- Os líderes foram os mais afetados pela queda de engajamento no último ano
- O dimensionamento de Remuneração e Benefícios deixou de ser o mais crítico pela primeira vez
- Benefícios flexíveis surgem como a terceira prática que mais engaja os profissionais
- 18% dos trabalhadores lidam diariamente com sintomas negativos de saúde mental
- 6 em cada 10 profissionais consideram pedir demissão
É o que revela a pesquisa realizada pela Flash em parceria com a FGV EAESP. Os dados indicam que, cinco anos após a pandemia, o ambiente corporativo se tornou mais rígido e voltado para resultados, num contexto econômico marcado pela inflação e juros altos. Os especialistas apontam que “o contrato psicológico entre empresas e profissionais se fragilizou”, evidenciando um descompasso entre as expectativas dos trabalhadores e as ofertas das organizações.
Renato Souza, professor de Recursos Humanos da FGV EAESP e coautor do estudo, destaca que a motivação dos colaboradores é influenciada por fatores extrínsecos—como salário e benefícios—que, embora importantes, não garantem engajamento. O estudo ressalta que 44% dos entrevistados estão satisfeitos com sua remuneração, embora este índice tenha subido apenas três pontos desde o pior patamar registrado em 2023. A insatisfação, portanto, deslocou-se para questões relacionadas ao propósito e significado do trabalho.
Entre as causas do desengajamento, estão a falta de autonomia e flexibilidade, além da escassez de tempo para projetos pessoais, o que demonstra um desequilíbrio entre vida pessoal e profissional.
A pesquisa também revela o fenômeno do presenteísmo, onde trabalhadores comparecem ao trabalho, mas apresentam desempenho abaixo do esperado. Aproximadamente 22% dos desengajados dizem perder mais de cinco horas por dia motivados. Esse presenteísmo gera um custo financeiro significativo, estimado em R$ 6 bilhões, considerando as horas improdutivas e os níveis salariais.
Adicionalmente, um dado alarmante revelou que a liderança também enfrenta altos níveis de desengajamento, com 78% dos executivos apresentando sintomas de ansiedade. Essa situação pode ter consequências em cascata, onde líderes desmotivados têm dificuldade em inspirar suas equipes.
A pesquisa mostra que reverter esse cenário exigirá múltiplas ações estratégicas:
- Investir em motivação: A redução dos custos relacionados ao desengajamento pode impulsionar empresas a implementar estratégias mais efetivas de engajamento.
- Ressignificar a relação com o trabalho: Oferecer maior autonomia e reconhecimento se torna essencial para aumentar a satisfação.
- Cuidar da liderança: Proteger a saúde mental dos líderes é fundamental, uma vez que são eles quem devem motivar os demais.
- Promover flexibilidade: A flexibilidade nos horários e benefícios personalizados são práticas que podem aumentar o engajamento.
- Dar propósito ao trabalho: As empresas precisam reforçar a importância do trabalho em suas missão e objetivos.
- Atração e retenção de talentos: Com um mercado aquecido, a valorização do engajamento pode ser uma alavanca competitiva para as empresas.
Os dados do Índice Engaja S/A também apresentaram uma avaliação das dimensões que mais engajam no trabalho, levando em consideração diferentes níveis hierárquicos, com ênfase em atributos como camaradagem, ambiente aberto e valorização do colaborador.
Esses resultados reforçam a necessidade de adaptação das organizações em um ambiente de trabalho em constante transformação, onde o engajamento e a motivação se tornaram estratégicos para a saúde econômica e a sustentabilidade das empresas.

