O mercado de trabalho brasileiro enfrenta um cenário complexo, caracterizado por sinais de desaceleração na atividade econômica, mas com um avanço significativo nos rendimentos. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), os dados recentes indicam que o crescimento real da renda deve persistir nos próximos meses, embora não represente um motivo adicional para mudanças na política monetária.
O economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, analisa que a tendência de curto prazo aponta para a estabilização do emprego e a continuidade do crescimento real da renda. Ele destaca que a taxa de desemprego neutra (Nairu) permanece abaixo do nível de equilíbrio, estimado em entre 5,5% e 6%, sugerindo que o mercado continua apertado, com evidências qualitativas que corroboram essa análise.
Margato também projeta um aumento de 1,7% no Produto Interno Bruto (PIB) para 2026, com viés de alta, próximo do PIB potencial. Ele aponta que o crescimento da renda real é um dos fatores que sustenta o consumo. Apesar de uma expectativa de moderação nos rendimentos no próximo ano, ainda se prevê variações positivas.
De acordo com as estimativas da XP, espera-se um crescimento real de 3,2% para o rendimento médio em 2025 e de 2,3% em 2026. A massa de renda deverá avançar 5% em 2025 e 3,5% em 2026.
Antonio Ricciardi, do Banco Daycoval, acrescenta que a crescente renda real apresenta um aumento significativo, de aproximadamente 3,8% em determinado intervalo, o que considera elevado em relação à produtividade da economia. Essa discrepância pode gerar pressões inflacionárias, uma preocupação que se reflete na projeção de uma alta de 5,8% para a inflação de serviços em 2025, que está acima do teto inflacionário estabelecido de 4,5%.
Ricciardi prevê uma desaceleração nos rendimentos ao longo do tempo, o que, segundo ele, poderá impactar a inflação. A expectativa do Daycoval é de uma inflação de serviços em 4,3% para 2026.
No cenário da política monetária, André Valério, economista sênior do Inter, também observa que, apesar da resiliência do mercado de trabalho, os rendimentos reais estão apresentando uma desaceleração, saindo de cerca de 6% para 3,2% ao longo dos meses. Ele sugere que a redução nos salários de entrada, conforme os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), pode refletir uma tendência de ajuste.
Valério ressalta que, embora haja um ganho real, isso não necessariamente implica um aumento nos salários nominais, o que pode não gerar pressões imediatas sobre o Banco Central para uma redução da taxa de juros. O Inter prevê que o afrouxamento monetário deve começar em janeiro de 2026, com um corte de 0,25 ponto porcentual na Selic, reduzindo a taxa de 15% para 14,75%.
O cenário para o mercado de trabalho sugere um desemprego em 5,5% ao final de 2025 e 6,5% em 2026. Margato, da XP, aponta que a recente melhora no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), especialmente em relação a alimentos e bens industriais, não deverá provocar grandes preocupações para o Banco Central em sua condução monetária. No entanto, a inflação de serviços continua a ser um risco potencial. O Banco Central deverá manter uma comunicação cautelosa e dependente de dados nas próximas reuniões.
A XP estima que o afrouxamento monetário se inicie em março de 2026, com um corte de 0,50 ponto porcentual, seguido de mais cinco cortes da mesma magnitude, com a expectativa de que a Selic atinja 12% ao final do próximo ano.

