SÃO PAULO, 4 de dezembro (Reuters) – Os dados do terceiro trimestre revelados nesta quinta-feira indicam um crescimento desigual da economia brasileira, o que tem incentivado apostas para uma possível redução da taxa de juros (Selic) no início do próximo ano. O cenário externo também será um fator a ser considerado nesse contexto.
<p>Com a política monetária em uma fase restritiva, com a Selic fixada em **15%**, o Produto Interno Bruto (PIB) registrou um avanço de apenas **0,1%** no terceiro trimestre, aquém das expectativas do mercado.</p>
<p>A economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, comentou sobre a situação atual: “O PIB reflete uma economia estagnada. A desaceleração é evidente em alguns setores, enquanto outros mostram crescimento. Esse contraste levanta dúvidas sobre a extensão da desaceleração econômica”.</p>
<p>Pinheiro destaca que a indústria, por exemplo, teve um crescimento de **0,8%** no período, enquanto o setor da construção se recuperou com uma expansão de **1,3%**, após dois trimestres de retração.</p>
<p>Na esfera da demanda, os **investimentos** avançaram **0,9%**, recuperando-se de uma queda de **1,5%** no segundo trimestre. Em contrapartida, os setores de **serviços** e o **consumo das famílias** mostraram desempenho fraco, ambos com um crescimento modesto de **0,1%**, evidenciando os efeitos da política monetária restritiva.</p>
<p>Com a expectativa de que o Banco Central mantenha a Selic em **15%** na próxima reunião, a atenção agora se concentra em janeiro. Após os dados do PIB, a curva a termo indicava uma chance de **84%** para um corte de **25 pontos-base** na Selic durante a primeira reunião de 2024, um aumento em relação aos **78%** da véspera.</p>
<p>Analistas da Galapagos Capital e do Inter preveem cortes na taxa de juros em janeiro, com estimativas de **0,50 ponto percentual** e **0,25 ponto**, respectivamente. Contudo, mesmo com a possibilidade de cortes nos juros ao longo do ano, a tendência de desaceleração econômica deve persistir por algum tempo.</p>
<p>André Valério, economista sênior do Inter, observa que “apesar dos cortes previstos para 2024, a política monetária continuará a desacelerar a economia, mas de forma controlada, buscando um equilíbrio em meio à queda da inflação”.</p>
<p>Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV, acredita que o ciclo de afrouxamento monetário só deve iniciar em março, com um corte de **0,25 ponto**, manifestando cautela por parte do Banco Central. “A desaceleração econômica está se espalhando de forma desigual. O Banco Central provavelmente aguardará mais dados antes de agir”, afirmou.</p>
<p>Além dos fatores internos, o cenário internacional também é um aspecto crucial, especialmente com a desaceleração da atividade econômica na Europa e na Ásia, e a discussão em torno de inflação e juros nos Estados Unidos. O Federal Reserve terá uma reunião na próxima semana, com expectativas de um novo corte de juros diante da desaceleração do emprego no país.</p>
<p>Padovani ressalta um clima de otimismo excessivo nos mercados acionários, que pode se corrigir, impactando o crescimento nos EUA e, consequentemente, a riqueza. Ele menciona, ainda, a incerteza relacionada à eleição presidencial no Brasil em **2026**.</p>
<p“Diante das dificuldades para compreender a situação da economia global e os mercados acionários dos EUA, os investidores permanecem atentos a dados de curto prazo. Espera-se que a volatilidade financeira domine o cenário em 2026, e qualquer corte de juros pelo Banco Central poderá enfrentar desafios na estabilidade dos investimentos”, concluiu.</p>

