A guerra tarifária iniciada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, será um tema central nas discussões durante a reunião de chanceleres do BRICS, que ocorre no Rio de Janeiro. O documento final deverá incluir críticas a “medidas unilaterais”, conforme informou o embaixador Maurício Lyrio, negociador brasileiro no bloco.
“Os ministros estão elaborando uma declaração com o objetivo de reafirmar a centralidade e a importância do sistema multilateral de comércio. As negociações comerciais multilaterais devem ser o eixo principal de atuação nesta área”, destacou Lyrio. Ele acrescentou que o BRICS mantém sua rejeição a qualquer ação unilateral, posição já consolidada ao longo do tempo.
Importante: A China isentou certos tipos de chips fabricados nos Estados Unidos, um movimento que ocorre em meio a tensões comerciais.
Além disso, o BRICS já foi alvo de críticas por parte de Trump, que ameaçou impor tarifas de até 100% sobre os países do bloco caso fosse estabelecida uma moeda única para transações comerciais, substituindo o dólar. Na prática, a discussão gira em torno do aumento do uso de moedas locais e da interconexão dos sistemas de pagamento dos países para facilitar o comércio.
Atualmente, o BRICS é composto por 11 países, incluindo Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, somando-se a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul desde 2022. Cada membro enfrenta desafios distintos em meio à guerra comercial instaurada pelo governo norte-americano. A China, como a maior economia do grupo, é afetada por tarifas de 145% sobre suas exportações para os Estados Unidos.
Por outro lado, o Brasil, embora possua uma das tarifas mais baixas (10%), aplica uma sobretaxa de 25% sobre as exportações de aço e alumínio.
A defesa do multilateralismo, uma posição defendida principalmente por Brasil e China, tem sido comprometida pela falta de arbitragem comercial internacional. A Organização Mundial do Comércio (OMC) encontra-se paralisada desde 2017, quando os Estados Unidos deixaram de indicar novos juízes para o órgão de apelação, resultando em um número insuficiente de juízes para formar decisões.
Em resposta às tarifas americanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a intenção de recorrer à OMC, caso as negociações diretas com os EUA não tragam resultados satisfatórios. Contudo, essa ação é reconhecida pelo governo brasileiro como uma medida simbólica.
“O Brasil teve vitórias em painéis da OMC, mas a tendência é que países perdedores recorra a um órgão de apelação que não está funcionando. Isso priva o sistema multilateral de um meio eficaz para resolver conflitos”, enfatizou Lyrio, que também atua como negociador nas questões tarifárias com os Estados Unidos.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu)