Em outubro de 2023, os Estados Unidos registraram o maior número de cortes de empregos para o mês em mais de 20 anos, com um total de 153.074 demissões, conforme dados da consultoria de recolocação Challenger, Gray & Christmas. Este número representa quase três vezes o total do mesmo mês de ano anterior e é o maior para outubro desde 2003. As demissões foram impulsionadas, em especial, pelos setores de tecnologia e armazenamento.
O diretor de receita da Challenger, Andy Challenger, destacou que a queda nos postos de trabalho está ocorrendo em um contexto de transformação setorial, marcada pela crescente adoção da inteligência artificial (IA), redução do consumo e aumento dos custos operacionais. “Os profissionais demitidos enfrentam atualmente dificuldades para se recolocar, o que pode impactar ainda mais o mercado de trabalho”, comentou.
Os dados indicando um acentuado aumento nas demissões são preocupantes: até agora, os cortes de empregos em 2023 ultrapassaram 1 milhão, o maior total desde o início da pandemia. Além disso, o número de contratações anunciadas pelas empresas é o mais baixo desde 2011, com as projeções de contratações sazonais atingindo níveis históricos desde 2012.
O cenário não apresenta perspectivas favoráveis. Challenger mencionou que, apesar de uma possível recuperação com cortes nas taxas de juros e um desempenho positivo em novembro, não se espera um ambiente robusto para contratações sazonais em 2025.
Recentemente, empresas de grande porte também anunciaram cortes significativos. A Target eliminou 1.800 cargos, representando cerca de 8% de sua força de trabalho corporativa, enquanto a Amazon cortou 14.000 empregos, citando a influência da IA no mercado de trabalho. Outras empresas, como Paramount Skydance, Starbucks e Delta Air Lines, também reduziram seus quadros de funcionários.
A UPS reportou a redução de 34.000 posições em sua força operacional, 70% a mais do que o previsto, explicando que a automação aumentou a produtividade e reduziu a necessidade de mão de obra. Enquanto algumas empresas se concentram na eliminação de camadas gerenciais e na contenção de custos, outras têm buscado se adaptar à nova realidade do mercado.
A crescente quantidade de demissões levanta preocupações sobre a saúde do mercado de trabalho, especialmente em um momento em que novos desempregados enfrentam um cenário de contratação cada vez mais frágil. Essa realidade contrasta com a avaliação do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que descreveu um “resfriamento muito gradual” no setor.
O CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, corroborou a análise de Powell, prevendo estabilidade ou até crescimento na força de trabalho da instituição, à medida que a IA é integrada. Dimon afirmou que o banco pretende redirecionar funcionários cujos cargos possam ser impactados pela tecnologia, enfatizando que, embora a IA reduza a carga de trabalho em várias funções, também pode criar novas oportunidades de emprego.
Segundo dados da ADP, as folhas de pagamento das empresas americanas cresceram em 42 mil posições em outubro, após dois meses consecutivos de queda. Isso indica uma possível estabilização, embora dentro de uma tendência geral de enfraquecimento na demanda por mão de obra. Um relatório da Revelio Labs sobre o mercado de trabalho deve ser divulgado ainda esta semana, num momento em que os economistas estão cada vez mais dependendo de dados do setor privado devido à paralisação do governo.

