Países da América do Sul estão se destacando no atual cenário da guerra comercial global, que afeta os mercados agrícolas. As tensões entre os Estados Unidos e a China, o maior fornecedor e consumidor mundial de produtos agrícolas, respectivamente, têm criado uma oportunidade para essas nações aumentarem suas exportações, abrangendo desde carne até grãos, e assim conquistarem uma maior fatia do mercado global.
A carne bovina emerge como um produto chave nesse contexto. As tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os principais compradores de carne bovina na América do Sul estão provocando uma reestruturação nos fluxos comerciais. Isso resultou em um aumento das exportações brasileiras de carne bovina para países que seguem normas “halal”, como Argélia e Turquia.
O Japão, que ocupa a segunda posição entre os importadores de carne bovina dos EUA, encontra-se em negociações adiantadas para adquirir carne mais barata do Brasil. De acordo com Guilherme Jank, analista de mercado da Datagro, eventuais desacelerações econômicas relacionadas à guerra comercial devem levar compradores internacionais de carne bovina a optarem por fornecedores mais econômicos, como o Brasil.
A China também desempenha um papel crucial nesse panorama. Recentemente, o país fez pedidos substanciais de soja ao Brasil, o que proporciona uma vantagem competitiva ao país na disputa agrícola com os EUA. Além disso, a China e a Argentina chegaram a um acordo para retomar as importações de carne de frango.
As negociações entre o Mercosul e a União Europeia estão progredindo, o que pode abrir oportunidades para um aumento das exportações para a Europa. Marcos Jank, professor sênior de agronegócio global no Insper, ressalta que essa parceria pode impulsionar ainda mais a competitividade dos produtos sul-americanos.
Produtores de sorgo argentinos poderão se beneficiar com a alta dos preços, considerando a escassez de fornecedores alternativos desse grão, essencial na alimentação animal. A continuidade das restrições comerciais até o outono pode oferecer novas oportunidades para os produtores sul-americanos, já que a colheita de soja e milho nos EUA ocorrerá nesse período. Ivo Sarjanovic, ex-comerciante de commodities e professor na Universidade Torcuato Di Tella em Buenos Aires, afirma que se essas tensões persistirem, os compradores da China e da Europa provavelmente se voltarão para a América do Sul.
Contudo, a flutuação dos preços nos mercados agrícolas continua sendo uma preocupação para os exportadores. Embora os preços da soja no Brasil e na Argentina tenham inicialmente aumentado com a imposição das tarifas, uma possível recessão global poderia reduzir a demanda e exercer pressão sobre os preços futuros. Jank, da Datagro, sugere que mesmo em tal cenário, é mais provável que economias importadoras optem por carnes mais baratas quando a disponibilidade de produtos é restrita.
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