Transformações significativas estão moldando o cenário global e impactarão os mercados nos próximos 10 a 20 anos, conforme delineado por Stephen Dover, estrategista-chefe da Franklin Templeton. Ele se refere a essas mudanças interconectadas como as “seis ondas poderosas”, que incluem o aumento dos gastos públicos e o endividamento dos países, o envelhecimento demográfico, as altas taxas de juros, os avanços em Inteligência Artificial (IA), disputas geopolíticas e mudanças climáticas.
A tese foi apresentada no evento Debates 2025, realizado em São Paulo no dia 10 de outubro. Em uma entrevista ao InfoMoney, Dover destacou os riscos e as oportunidades associados à IA, as estratégias de diversificação de investimentos e alternativas ao dólar.
Dover argumenta que a elevação da produtividade por meio da IA pode resultar em juros mais baixos e ajudar a controlar os custos da Previdência Social. Ele indica que a consolidação dessa tendência pode trazer oportunidades nos mercados, enfatizando a importância de diversificação entre diferentes ativos.
Dívida crescente
De acordo com Dover, o endividamento das nações desenvolvidas está em níveis alarmantes, apresentando uma “ameaça existencial” ao crescimento sustentável. Embora uma “quebra repentina” das economias endividadas não seja esperada, o aumento das taxas de juros é um problema premente.
Os altos índices de dívida e o risco de inflação demandam taxas de juros elevadas, o que onera os custos de investimento e dificulta o desenvolvimento de indústrias, especialmente as de IA. Dover se mostrou pessimista quanto à capacidade dos países ocidentais de resolver a questão da dívida, pois opções como reduzir o endividamento ou aumentar impostos são desafiadoras de implementar.
Para ele, a resposta ao problema reside na IA. “Sem aumento na produtividade, a renda per capita diminui. Portanto, precisamos encontrar modos de aumentar a produtividade, e nesse momento, a solução está na inteligência artificial”, afirmou. Dover ainda discute o potencial da IA para reduzir custos na área da saúde, otimizando processos e utilizando tecnologia robótica.
Ampliar e diversificar investimentos
Embora a IA continue a impulsionar o mercado norte-americano e a Franklin Templeton mantenha uma perspectiva otimista para ações nesse segmento, Dover alerta para a importância de investir em outros setores e ainda fora dos Estados Unidos. Ele destaca que o foco excessivo em IA pode resultar em “superexposição” e tornar os investidores vulneráveis.”
Dover afirma que muitos acreditam estar diversificando ao investir em fundos como o S&P 500, mas esses fundos atualmente têm uma concentração significativa em tecnologia. O especialista sugere que os investidores considerem ações de menor capitalização, mercados emergentes, imóveis e ativos digitais como alternativas.
Riscos associados à China
Referindo-se à China, Dover subestimou a possibilidade de criticar publicamente o país, dado seu envolvimento nesse mercado. Contudo, indicou que o rápido aumento dos investimentos chineses em IA apresenta um risco, pois o desenvolvimento de modelos eficientes pode oferecer vantagem competitiva em custos e energia.
Embora sua equipe de mercados emergentes investa em empresas chinesas, Dover observa que as incertezas geopolíticas e a diferença nos retornos sobre investimento em comparação às empresas ocidentais são preocupantes. “Mesmo empresas que tenham um bom desempenho não significam que sejam benéficas para os acionistas”, ressaltou.
O papel do dólar, iene e euro
A recente desvalorização do dólar em relação a outras moedas é vista por Dover não como uma ameaça real, mas como uma oportunidade para diversificação monetária. “Os mercados emergentes continuarão a utilizar o dólar”, afirmou, ressaltando o aumento da diversificação através de moedas digitais.
No contexto de diversificação, a Franklin Templeton desenvolve uma abordagem positiva em relação ao iene, atualmente desvalorizado, e ao euro, que deve se valorizar. Dover também mencionou moedas do Sul e Sudeste Asiático como alternativas viáveis para investidores.

