O recente aumento de 50% nas tarifas sobre produtos importados do Brasil, imposto pelo presidente Donald Trump, gerou uma série de estudos sobre os impactos econômicos da medida. A análise do banco digital Inter identificou consequências negativas, principalmente em algumas regiões, refletindo na geração de empregos no país.
Conduzido por André Valerio, economista sênior, e Gustavo Menezes, assistente de pesquisa macroeconômica, o levantamento revelou uma perda de aproximadamente 15 mil empregos entre agosto e setembro, apontando a indústria alimentícia como a mais afetada. Nesse setor, 30% das perdas ocorreram no refino de açúcar, predominantemente localizado em São Paulo, que, segundo estimativas, abrigou mais de um quarto dos empregos industriais perdidos até setembro.
A pesquisa também destacou um impacto significativo no Sul do Brasil, onde cerca de 4.500 empregos foram destruídos, especialmente em regiões dependentes de indústrias de bens de capital voltadas à exportação para os Estados Unidos. Apesar de a isenção posterior de diversos produtos ter reduzido a alíquota efetiva para cerca de 31%, o estudo indica que os efeitos continuarão a ser assimétricos, com foco na indústria.
Embora o Brasil seja um importante exportador de commodities agrícolas para os Estados Unidos, os bens industriais enfrentam maiores desafios em se adaptar às novas condições do comércio internacional. Isso se deve à sua falta de padronização nos preços, ao contrário de produtos como café, petróleo e minério.
O estudo revelou que a imposição das tarifas já afetou substancialmente as exportações brasileiras de produtos industriais, com degradações superiores a 30% em itens como aeronaves e máquinas elétricas, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Ao analisar os dados regionais, não apenas os números de emprego foram considerados, mas também a variação nas exportações de bens manufaturados. De acordo com as informações, em julho, 131 regiões apresentaram crescimento nas exportações, mas em setembro esse número caiu para 28, enquanto regiões com declínios acentuados subiram para 63, indicando o impacto adverso da medida.
Os autores do estudo reforçaram que os efeitos de mudanças significativas no comércio tendem a ser localizados. Com base na relação entre exportações industriais e o PIB da indústria de transformação, foi observado um padrão variável entre as regiões, apontando para a necessidade de análises mais específicas do que as avaliações agregadas tradicionais.
Para medir o impacto no emprego, os especialistas do Inter integraram dados de comércio exterior com os microdados do Caged, que registram o emprego formal no Brasil. Isso permitiu identificar como a dependência comercial com os Estados Unidos afetou a criação de vagas.
A análise conclui que a frustração nas expectativas de contratações no setor de refino de açúcar, em particular, resultou de uma desaceleração sazonal. Com a queda de aproximadamente 80% nas exportações de açúcar do Brasil para os Estados Unidos, o futuro dessa indústria e suas contratações permanecerão sob observação nos próximos meses.
Por fim, os economistas afirmam que, embora o impacto geral das tarifas tenha se mostrado limitado devido à baixa dependência da economia brasileira em relação ao mercado americano, a indústria sentiu fortemente as consequências. Com a expectativa de novas conversas entre os governos, há esperança de que os danos sejam mitigados. Contudo, é possível que efeitos prolongados persistam devido à inércia nas relações econômicas.

