A inflação em território brasileiro apresentou deslizes positivos nos últimos meses, movida pela valorização do real e pela diminuição nos preços de alimentos e produtos importados. Segundo a XP Investimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro ficou levemente inferior às expectativas, destacando deflação em bens duráveis e no setor alimentício. As médias das medidas de núcleo, que excluem variáveis mais instáveis, já estão dentro da faixa de tolerância da meta.
Apesar deste cenário favorável de inflação, o mercado de trabalho continua aquecido e as previsões quanto aos preços permanecem acima do esperado. Com isso, analistas da XP indicam que o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá adiar o início dos cortes na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 15%, previsto para março de 2026. A expectativa é de que ocorram seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual, levando a Selic a 12% ao fim do ciclo.
Por outro lado, em termos reais, essa taxa se aproximaria de 7,5%, ainda acima do juro neutro, estimado em 5,5%. Para que a Selic se aproxime desse nível, a XP sugere que sejam implementadas reformas fiscais mais robustas.
No que diz respeito ao câmbio, a corretora projeta um valor de R$ 5,30 por dólar até o final do ano, elevando essa estimativa para R$ 5,50 em 2026, considerando um tom mais rigoroso do Federal Reserve (Fed) e os déficits em conta corrente.
Negociações comerciais e contexto político
O cenário econômico internacional continua favorável para países emergentes. Nos Estados Unidos, o Fed reduziu as taxas de juros em duas ocasiões seguidas e pode realizar nova diminuição em dezembro, apesar das incertezas causadas pelo shutdown, que afetaram a divulgação de dados econômicos. Analistas apontam que uma eventual alta da inflação americana pode adiar essas reduções e valorizar o dólar no curto prazo.
As negociações comerciais entre os líderes Donald Trump, Xi Jinping e Luiz Inácio Lula da Silva têm contribuído para um clima menos tenso no comércio global. Mesmo com os altos níveis de tarifas impostos pelos Estados Unidos, o Brasil se destacou nas exportações de produtos como café, minério de ferro e carnes. A produção agrícola está prevista para continuar em crescimento, sustentando a balança comercial.
A XP revisou suas estimativas e agora projeta um superávit de US$ 66,9 bilhões em 2025 e de US$ 69 bilhões em 2026, superior aos US$ 58,3 bilhões e US$ 62 bilhões previamente estimados, respectivamente. O Investimento Direto no País (IDP) também apresenta crescimento acima do esperado, com aumento nas participações de capital.
No campo político, o governo Lula ganhou impulso após uma operação policial no Rio de Janeiro e avançou na proposta para ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda para rendimentos de até R$ 5 mil. Especialistas observam que as iniciativas sociais e o aumento dos investimentos públicos devem sustentar a demanda doméstica nos anos de 2025 e 2026, mesmo diante de uma possível desaceleração econômica.
PIB e contas públicas
A corretora projeta um crescimento de 2,1% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2025 e de 1,7% em 2026, impulsionado por crédito, renda e investimentos. A taxa de desemprego deve permanecer estabilizada entre 5,5% e 6%.
Em relação às contas públicas, o déficit do setor público consolidado, que abrange a União, estados e estatais, deve atingir R$ 61,8 bilhões (0,8% do PIB) em 2023 e R$ 64,2 bilhões (0,5% do PIB) em 2026. A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) está projetada para alcançar 83,6% do PIB, enquanto a Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) deve ficar em 69,3%, pressionadas pelos juros altos e subsídios.
A XP avalia que a redução do espaço para gastos discricionários exigirá ajustes fiscais a partir de 2027, principalmente em relação à regra do limite de despesas.

