Warren Buffett, um dos investidores mais renomados do mundo, anunciará sua aposentadoria como CEO da Berkshire Hathaway ainda este ano. Apesar de liderar um conglomerado considerado um gigante em energias renováveis, com investimentos significativos em energia eólica e solar nos Estados Unidos, o legado de Buffett em relação às mudanças climáticas é multifacetado e complexo.
Embora Buffett tenha reconhecido a ameaça que a mudança climática representa, afirmando que é "altamente provável" que seja "um problema para o planeta", sua empresa também se destaca como um investidor relevante em petróleo, gás e carvão. Essa dualidade é uma característica marcada da Berkshire Hathaway, e os investimentos em combustíveis fósseis não devem diminuir com a saída do investidor de 94 anos.
Ethan Zindler, chefe de pesquisa de países e políticas na BloombergNEF, afirmou que Buffett é um investidor pragmático que identifica oportunidades nos mais diversos setores, nem sempre alinhados com causas ambientais. A Berkshire Hathaway, por exemplo, tem um portfólio robusto em energias renováveis, sendo a MidAmerican Energy responsável por uma significativa quantidade de parques eólicos em Iowa, que representaram mais de 60% da capacidade de geração de energia da empresa no último ano.
Durante a reunião anual de acionistas, Greg Abel, indicado como sucessor de Buffett e atual chefe da área de energia da Berkshire, mencionou um investimento de US$ 16 bilhões em energias renováveis em Iowa, projetado para desativar cinco unidades de carvão. No entanto, Abel reconheceu a necessidade de manter outras cinco para garantir a estabilidade do sistema energético, mencionando a importância de evitar situações como as enfrentadas por Espanha e Portugal.
Apesar de Buffett ter abordado os riscos da mudança climática, a Berkshire investiu na Occidental Petroleum e na Chevron na última década, mesmo com os combustíveis fósseis sendo principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa. No contexto geopolítico, a guerra na Ucrânia ressaltou a importância da segurança energética, levando a um retorno gradual ao uso de combustíveis fósseis.
Jim Shanahan, analista da Edward Jones, comentou que a Berkshire busca aumentar seus investimentos em energias renováveis, mas observa que essa transição deve ser gradual. Matthew Palazola, da Bloomberg Intelligence, destacou que a empresa parece não priorizar o investimento em práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) no momento, enxergando a energia apenas como uma necessidade para a sociedade.
Abel afirmou que a Berkshire colabora com os estados para acompanhar seus programas energéticos, respeitando os padrões federais. Em 2022, ele elogiou a empresa como sendo "excepcionalmente bem posicionada" para atender às expectativas em relação à sustentabilidade, em um período anterior à aprovação da Lei de Redução da Inflação, que representa um marco na legislação climática dos EUA.
Contudo, o cenário mudou drasticamente com o avanço da inteligência artificial e as mudanças na política climática sob a administração de Donald Trump, impactando as expectativas do setor.
Recentemente, a Berkshire Hathaway enfrentou o impacto da mudança climática em seus negócios. Em seu relatório de 2024, a empresa avaliou perdas de cerca de US$ 1,3 bilhão em seu segmento de seguros devido a incêndios florestais na Califórnia, eventos cuja probabilidade tem aumentado em função do aquecimento global. Buffett, em sua carta anual a acionistas, alertou para a crescente possibilidade de perdas significativas em seguros decorrentes de tempestades.
Ele comentou: "A mudança climática pode ter anunciado sua chegada. Um dia, a qualquer momento, uma perda de seguro realmente estonteante ocorrerá — e não há garantia de que haverá apenas uma por ano."
Em resumo, enquanto Buffett se prepara para deixar a liderança da Berkshire Hathaway, seu legado e as escolhas da empresa em relação às energias renováveis e combustíveis fósseis serão desafios consideráveis para seu sucessor, Greg Abel, que terá de navegar por um cenário de crescente pressão e expectativa em relação à sustentabilidade e às mudanças climáticas.