Jens Castrop, o primeiro jogador de origem estrangeira e mestiço a se juntar à seleção de futebol da Coreia do Sul, gerou um intenso debate entre os fãs após suas declarações sobre a cultura nos vestiários coreanos. Suas observações trouxeram à tona discussões sobre a possível persistência de hierarquias dentro da equipe.
Uma entrevista de Castrop para a revista alemã Kicker, publicada na última segunda-feira, levantou questões sobre a chamada “cultura de kkondae”, que se refere a tradições patriarcais e de senioridade que podem estar inscritos no futebol sul-coreano.
Nascido na Alemanha, filho de mãe coreana e pai alemão, Castrop começou sua carreira no futebol representando a Alemanha nas categorias de base. Em agosto deste ano, ele decidiu mudar sua bandeira esportiva, passando a jogar pela seleção sul-coreana. A sua inclusão na equipe sob o comando do treinador Hong Myung-bo sinaliza uma nova fase para os Guerreiros Taegeuk. A versatilidade de Castrop em partidas amistosas contra os Estados Unidos e o México rapidamente conquistou o respeito de torcedores e da comissão técnica.
Em sua entrevista, Castrop destacou que na Coreia do Sul as pessoas são muito educadas. Ele comentou que é comum os jogadores mais jovens entrarem no elevador por último, trazerem frutas para seus colegas após as refeições e esperarem que todos terminem de comer antes de saírem.
Essa discussão gerou comparações com o trabalho do ex-treinador Guus Hiddink, que, durante a Copa do Mundo de 2002, desafiou a rígida hierarquia da equipe coreana. Sua abordagem foi considerada essencial para levar a Coreia do Sul às semifinais e revolucionou a cultura do time, ao priorizar a performance e o trabalho em equipe em vez da idade.
Mais de 20 anos depois, as declarações de Castrop reacendem a questão sobre a importância da senioridade em relação ao mérito dentro do vestiário da seleção. O que para Castrop eram observações sobre a etiqueta coreana se tornaram um ponto polêmico entre a mídia e os fãs. Alguns usuários das redes sociais demonstraram surpresa com a presença de hierarquias em um time formado por atletas que deveriam ser iguais.
No entanto, outros interpretaram seus comentários como uma mera representação das normas culturais da Coreia. O ex-jogador Chae, de 32 anos, afirmou que esse tipo de etiqueta é “normal” e não necessariamente negativo. Para ele, a disciplina pode fortalecer os laços do time, e trazer frutas para os mais velhos é uma prática comum na Coreia, que pode ser vista fora do vestiário também, desde que não se torne excessiva ou cause desconforto.
Um fã de futebol, Park, de 37 anos, também compartilhou essa visão, mencionando que a mídia exagerou nas declarações de Castrop, o que agravou a situação. Park citou que, embora não seja a favor de hierarquias, sente que a ordem social na Coreia está se tornando menos rígida ao longo das décadas e que muitos times possuem suas próprias regras a respeito da senioridade. Ele acredita que o principal problema foi a forma como as palavras de Castrop foram dramatizadas, já que ele parece estar realmente satisfeito em jogar na Coreia do Sul.
Durante a entrevista, Castrop elogiou o famoso jogador coreano Son Heung-min, descrevendo-o como “um herói e um grande líder que une a equipe”. Ele expressou sua admiração ao vê-lo ao vivo, após acompanhá-lo pela televisão, ressaltando o respeito que Son ganha entre os colegas.
Ele também falou com carinho sobre as visitas que fez a Seul com sua mãe, chamando a cidade de “incrivelmente bela” e mencionando que ela está orgulhosa de suas conquistas no futebol.