A história de “The Killer”, uma famosa série de quadrinhos francesa, gira em torno de um assassino que reflete sobre a diferença entre ele e uma pessoa comum. Para o protagonista, não há distinção. Ele acredita que todos nós somos, de alguma maneira, assassinos, mencionando que cada vida exige uma forma de violência para se afirmar no mundo. Essa ideia instiga uma narrativa que explora a psique de um personagem moralmente ambíguo.
Recentemente, esse quadrinho serviu como base para um filme de David Fincher, lançado em 2023, que traz um enredo semelhante, mas com diferenças notáveis. O quadrinho, criado por Matz e ilustrado por Luc Jacamon, conta a história do assassino enquanto ele viaja por diversos locais, como França, Nova York e Venezuela, envolvendo-se com outras figuras como assassinos, chefes do tráfico e policiais. O filme, por sua vez, adapta apenas alguns elementos, como uma cena de assassinato em Paris e um enredo de vingança, mas apresenta uma narrativa distinta, focando mais no humor do que na intensa reflexão filosófica do material original.
O quadrinho possui cerca de 750 páginas, o que permite uma exploração detalhada do personagem. Enquanto você lê, percebe-se que o assassino, chamado de “killer” por outros e possivelmente de “Christian” por seu nome verdadeiro, é muito mais complexo do que ele mesmo imagina. Suas justificativas para a violência e seu sentimento de poder se revelam cada vez mais ilusórios. Ao longo da história, ele se vê forçado a confrontar as consequências de seus atos, o que o puxa para uma rede de conspirações que ameaçam a estabilidade de regiões inteiras. Em vez de simplesmente fugir dos problemas, ele toma decisões que o tornam um jogador importante dentro de sistemas de poder relacionados a petróleo e governo.
O protagonista, que tenta se manter distante do caos, acaba se envolvendo profundamente em situações complicadas. A evolução de seu caráter é questionável, pois, mesmo em sua autocrítica, ele continua a justificar suas ações até o fim da narrativa.
David Fincher se interessou por esse material devido a temas que se entrelaçam com muitos de seus trabalhos anteriores. A crítica social sobre a vida cotidiana e a alienação no capitalismo ressoam em sua filmografia, lembrando personagens como Tyler Durden em “Clube da Luta” e John Doe em “Seven”. No entanto, o filme apresenta um tom diferente, focando mais no lado humorístico e em aspectos superficiais da vida do assassino, com diálogos que exploram trivialidades enquanto ele aguarda seus alvos.
Michael Fassbender, que atua como o assassino, traz um humor peculiar para o papel. Embora seu personagem tenha uma visão sarcástica da vida, ele comete erros graves em suas missões, mostrando uma faceta menos inteligente em comparação ao assassino dos quadrinhos. Enquanto o quadrinho aprofunda a psicologia do protagonista, o filme, por sua duração limitada, busca entreter, utilizando o humor para comunicar sua mensagem central.
Assim, mesmo com as diferenças de abordagem, tanto o quadrinho quanto o filme trazem à tona questões sobre moralidade, poder e as complexidades da vida no capitalismo contemporâneo. Para aqueles que se interessam pelo original, o quadrinho permanece como uma profunda exploração da mente de um homem caracterizado por suas ações e escolhas.

