A atividade econômica no Brasil, após um primeiro semestre positivo, começa a mostrar sinais de desaceleração no mercado de trabalho, com o fenômeno se espalhando por diferentes setores. A geração de novas vagas, que até recentemente apresentava um desempenho robusto, agora revela indícios de moderação, impactando as dinâmicas inflacionárias do país.
De acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), o ritmo de contratações diminuiu. Em agosto, foram abertas 147,3 mil vagas formais de trabalho, abaixo das expectativas que projetavam a criação de 160 mil vagas. No acumulado de 2023, a criação de empregos totalizou 1,5 milhão, inferior aos 1,7 milhão do mesmo período do ano anterior.
Paralelamente, a taxa de desemprego, segundo a Pnad Contínua, manteve-se em 5,6% entre os meses de junho e agosto, sinalizando uma pausa nas quedas consecutivas e consolidando este índice em sua mínima histórica.
Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), comenta que os dados refletem um mercado de trabalho ainda aquecido. “O Caged apresenta uma desaceleração, mas ainda assim gera novas vagas. A Pnad mostra a taxa de desemprego na mínima histórica pelo segundo mês seguido. Existe uma certa estabilidade, mas já detectamos sinais de desaceleração”, analisa Tobler.
Flávio Serrano, economista-chefe do Banco BMG, alerta que, se a desaceleração continuar, a taxa de desemprego pode subir nos próximos meses, especialmente no primeiro semestre de 2024. Para Gustavo Rostelato, da Armor Capital, o mercado de trabalho ainda é caracterizado pelo dinamismo, mas uma “perda de tração” é esperada devido à política de juros elevados, com impactos começando a ser observados a partir de dezembro de 2023 e janeiro de 2024.
Os dados mais favoráveis da Pnad estão concentrados em setores considerados acíclicos, como administração pública, saúde e agropecuária, onde as contratações se mantêm estáveis, como destaca Tobler. No entanto, a retração no emprego, conforme apontado pela Pnad, ocorreu no setor formal, contrariando as expectativas de que o segmento informal seria o primeiro a sentir os efeitos da desaceleração. Laura Moraes, economista na Neo Investimentos, observa que os dados devem ser acompanhados para verificar a continuidade dessa tendência.
No que diz respeito ao Caged, Tobler observa uma desaceleração generalizada entre os setores, indicando que as altas taxas de juros começam a impactar o mercado de trabalho. Apesar de esperar resultados positivos para o fechamento do ano, Tobler prevê um ritmo de crescimento mais moderado: “Esperamos terminar o ano em uma posição favorável, mas com oscilações”, afirma.
Outro ponto de preocupação destacado por Rostelato é a taxa de participação da força de trabalho, que ainda não voltou aos níveis anteriores à pandemia. Moraes também ressalta a disminuição na força de trabalho, influenciando a taxa de desemprego. “Esse fenômeno pode ser atribuído a diversos fatores, como o aumento de benefícios, mas não há uma explicação clara. O fato é que a taxa de participação caiu, mantendo a taxa de desemprego estável”, explica.
Expectativas para 2026 no Mercado de Trabalho
Embora a atual política de juros altos possa frear a atividade econômica e o dinamismo nas contratações, especialistas acreditam que o mercado de trabalho não enfrentará um colapso significativo em 2026. A velocidade de geração de novas vagas e a queda do desemprego, no entanto, não devem se manter nos níveis observados até agora. O economista da FGV destaca que duas forças devem atuar nesse período: uma alta gradual do desemprego e uma inflação controlada.
Para que o Banco Central considere reduzir a taxa de juros, é essencial que a confiança no cenário econômico se consolide, o que implica uma economia mais lenta e um mercado de trabalho apresentando sinais de acomodação, além de um controle na inflação de serviços. Rostelato prevê um aumento na taxa de desemprego, o que é esperado, visto que a taxa atual é considerada baixa. Isso também deverá influenciar uma desaceleração no crescimento da renda, o que exercerá menor pressão sobre a inflação.
A economista Moraes alerta para dois cenários sobre a relação entre salários e emprego:
- 1) Os salários não desaceleraram, o que indicaria uma restrição na oferta de vagas, em vez de uma diminuição na demanda;
- 2) Os salários diminuem, o que seria um sinal de que a política monetária está funcionando efetivamente.
O impacto de questões eleitorais poderá, no entanto, aumentar a atividade econômica devido aos estímulos típicos desse período. “Com as eleições estaduais e federais no horizonte, é comum haver mais estímulos, o que pode pressionar a inflação”, conclui Moraes. Tobler também destaca a importância do crescimento salarial em um contexto onde o Banco Central busca controlar a inflação, enfatizando o desafio de equilibrar esses fatores nos próximos meses.