O livro “Coisa de Rico”, do antropólogo e pesquisador Michel Alcoforado, tem chamado a atenção por explorar o universo dos milionários brasileiros, tanto dos tradicionais quanto dos novos-ricos. A obra promete ser mais do que uma análise acadêmica; é uma imersão no comportamento das elites e apresenta um olhar curioso sobre a busca por status e pertencimento.
Alcoforado se lança em uma jornada onde observa de perto a vida de ricos e famosos, explorando eventos sociais, viagens e jantares. Sua pesquisa começa de forma convencional, com entrevistas e questionários, mas logo ele percebe que esse método não é eficaz. Para ganhar acesso às esferas sociais que deseja explorar, ele se torna um “antropólogo de luxo”, inserindo-se nas rodas da alta sociedade. A mudança de abordagem permite que ele conheça melhor os costumes, ansiedades e a dinâmica do mundo dos ricos.
O autor destaca que muitos dos sociólogos e economistas que estudam a elite brasileira não conseguem compreender a obsessão de parte da população pelo consumo de produtos luxuosos. Para Alcoforado, é essencial estar presente nesses círculos e observar seus comportamentos cotidianos para entender essa realidade. Ele menciona Mário Jorge e Claudette, um casal que se destaca pela arrogância e ostentação, como exemplos do que encontra nesse universo.
“Coisa de Rico” também aborda temas como a exclusão social dentro das elites. Os novos-ricos, por mais dinheiro que tenham, enfrentam um processo de validação e aceitação que pode ser cruel, sempre sendo medidos por sua capacidade de se encaixar nos padrões da elite tradicional. O autor cita que, mesmo entre os ricos, existe um jogo de poder e reconhecimento que determina quem realmente pertence àquele círculo.
Além de aspectos sociais, a obra traz reflexões sobre a herança escravocrata que ainda influencia as dinâmicas de classe e raça no Brasil. Alcoforado, um homem negro, não se aprofunda em suas vivências pessoais relacionadas ao racismo nesse meio, mas aponta a necessidade de expor as engenhocas que sustentam a desigualdade.
Por fim, o livro se destaca por um tom irônico e provocativo, abordando a ambição de se ascender na escala social e a complexidade das relações dentro da elite. Alcoforado mescla histórias divertidas e anedóticas com análises mais profundas das desigualdades que permeiam a sociedade brasileira. A recepção do livro indica que ele não só está vendendo bem, como também suscita questionamentos sobre a literatura e seus formatos, especialmente na antropologia contemporânea.

