A condução da política monetária no Brasil em 2026 tendem a ser marcada por uma postura conservadora do Banco Central. O Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter uma vigilância sobre a inflação projetada para 2027, especialmente diante da instabilidade política que se anuncia. Essa análise foi apresentada por Rodrigo Azevedo, sócio e gestor de macroestratégia da Ibiuna Investimentos, durante o evento Macro Vision 2025, realizado pelo Itaú BBA em São Paulo no dia 29 de outubro de 2023.
Segundo Azevedo, o Banco Central concentrará esforços na inflação de 2027, a qual será fortemente influenciada pelos resultados das próximas eleições. Ele delineou dois cenários possíveis para o próximo ano: um ajuste coordenado e um ajuste desordenado.
No primeiro cenário, denominado ajuste coordenado, espera-se que o novo governo implemente estratégias fiscais controladas, favorecendo a convergência da curva longa de juros e promovendo a confiança no mercado. Isso poderia resultar em uma inflação mais baixa a médio prazo, mesmo com a possibilidade de uma recessão no curto prazo.
Em contrapartida, o ajuste desordenado ocorreria se o governo eleito decidisse manter a atual política econômica inalterada. Nesse contexto, mercados poderiam reagir negativamente à trajetória da relação dívida/PIB, levando a um ajuste abrupto, similar aos eventos de 2015 e 2016. Azevedo expressou ceticismo quanto à possibilidade de a inflação de 2027 se alinhar à meta nesse cenário.
Bipolaridade de cenários
Diante dessa dualidade de cenários, o Banco Central enfrentará o desafio de conduzir a política monetária em 2026 sem uma previsão clara da inflação para 2027. Essa incerteza, como ressaltou Azevedo, deverá resultar em uma abordagem mais cautelosa por parte do Copom, que não deverá acelerar cortes na taxa de juros.
Apesar de reconhecer que a taxa Selic, atualmente em 15%, é considerada “extremamente alta por qualquer padrão”, com mais de 10% de juros reais, Azevedo defendeu que a situação econômica brasileira não demanda urgentemente um corte nas taxas. Ele mencionou indicadores como a taxa de desemprego em nível historicamenta baixo, o funcionamento eficaz do crédito e o crescimento da massa salarial como sinais de uma economia estável.
As expectativas de inflação para o médio prazo, especialmente para 2027 e 2028, continuam desancoradas, o que reforça a necessidade de prudência por parte do Banco Central. Na visão de Rodrigo Azevedo, eventuais cortes na taxa de juros, se realizados, ocorrerão em um momento futuro e não imediato.