Dois relatórios mensais de emprego foram suspensos devido à atual paralisação do governo dos EUA, comprometendo a divulgação de um importante indicador de inflação. Essa situação destaca um “apagão” de dados que afeta o Federal Reserve (Fed), que enfrenta divisões internas sem precedentes.
O Departamento de Estatísticas de Trabalho (BLS) deveria ter divulgado o índice de preços ao consumidor (CPI) referente a outubro na última quinta-feira (6). Contudo, a interrupção das atividades governamentais não apenas atrasou a divulgação desse índice, como também comprometeu a coleta de dados em campo. É cada vez mais provável que a publicação do relatório do CPI de outubro seja cancelada completamente.
A falta de informações oficiais que orientem as decisões dos formuladores de políticas impacta o debate sobre um possível corte de juros na próxima reunião do Fed, agendada para dezembro. Embora os membros do banco central tenham recebido o CPI de setembro a tempo da última reunião, eles não contaram com dados atualizados sobre o mercado de trabalho.
Se o governo reabrir nas próximas semanas e a coleta de estatísticas retornar, os responsáveis pelo Fed poderão precisar lidar com dados obtidos por meio de pesquisas retroativas e outros métodos, caso sejam efetivamente publicados. Embora relatórios de setor privado ajudem a mitigar a falta de dados oficiais sobre o mercado de trabalho, as alternativas para os números da inflação são mais escassas e limitadas em abrangência.
Em setembro, o CPI e sua medida central, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, registraram um aumento de 3% em relação ao ano anterior, resultado abaixo das expectativas. Medidas alternativas, como o “nowcast” do CPI do Fed de Cleveland, indicam resultados semelhantes para outubro.
Após a recente redução da taxa de juros pelo Fed em outubro, o presidente Jerome Powell afirmou que um novo corte em dezembro não está assegurado. Para os formuladores de políticas que estão atentos à potencial aceleração da inflação, a falta de dados oficiais pode atuar como um fator adicional para adiar a decisão no próximo mês.
Enquanto as probabilidades do mercado ainda favorecem um corte na taxa em dezembro, investidores acompanharão as aparições de diversos oficiais do Fed na próxima semana, entre eles John Williams, Raphael Bostic, Stephen Miran e Alberto Musalem.
Em entrevista ao Financial Times publicada neste domingo (9), Williams, que lidera o Fed de Nova York, afirmou que a próxima decisão sobre a taxa é “realmente um ato de equilíbrio”. Ele ressaltou que, embora a inflação esteja elevada e sem sinais de desaceleração, a economia dos EUA “mostra alguma resiliência”.



