O número de pedidos de recuperação judicial no agronegócio brasileiro aumentou 31,7% no segundo trimestre de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior, totalizando 565 solicitações, conforme dados da Serasa Experian divulgados nesta segunda-feira. O levantamento revela que os desafios financeiros enfrentados pelos produtores rurais, exacerbados pela baixa nas margens de lucro, continuam gerando repercussões negativas no setor.
O estudo abrange pedidos tanto de agricultores individuais quanto de empresas do setor agrícola. Este foi o primeiro trimestre desde o último quarto de 2023 em que houve um número superior de solicitações de recuperação judicial por empresas em relação a produtores individuais. Ao todo, 243 pedidos foram feitos por empresas agrícolas, dobrando o registrado no mesmo período do ano anterior, enquanto os produtores pessoas físicas contabilizaram 220 pedidos, um aumento de 2,8% em relação ao ano passado.
A Serasa Experian destacou que a predominância de pedidos de empresas é significativa, uma vez que estas costumam ser de maior porte e mais estruturadas. O aumento na demanda de recuperação judicial também foi notado nas empresas fornecedoras de insumos, com 102 solicitações, representando um crescimento de 8,5% em relação ao segundo trimestre de 2024.
Questões Econômicas e Inadimplência
Em declaração ao podcast 3Irmãos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mencionou que a pasta está atenta ao aumento dos pedidos de recuperação judicial no país, sugerindo a possibilidade de abuso do mecanismo por alguns setores. Embora não tenha especificado quais, observações indicam um aumento na inadimplência no agronegócio, impactando instituições financeiras públicas. O atraso de pagamentos superiores a 90 dias influenciou os resultados do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia.
Apesar de o agronegócio ter impulsionado o crescimento econômico em 2024, com uma supersafra, as margens de retorno cada vez mais estreitas geram preocupações entre os produtores, especialmente no início da nova safra de soja, que começou em meados de setembro e marca o início da temporada agrícola de 2026.
A primeira previsão da Conab, estatal vinculada ao Ministério da Agricultura, indica uma expectativa de alta de 1% na produção de grãos para a safra 2025/2026, que poderá estabelecer um novo recorde. Contudo, a combinação de quedas nos preços das commodities, aumento nos custos de insumos e juros elevados pode intensificar os desequilíbrios financeiros já presentes no setor.
“Estamos preocupados em saber se conseguiremos pagar as contas e se haverá algo a mais, se teremos rentabilidade”, afirma Marion Kompier, sócia do Grupo Kompier, que opera a Fazenda Brasilanda, com 6,6 mil hectares dedicados ao cultivo de soja em Goiás.