A recente queda na curva de juros futuros no Brasil não é um fenômeno isolado, segundo análise do JPMorgan divulgada nesta quarta-feira, 30 de agosto de 2023. Os analistas da instituição afirmam que a redução das taxas não pode ser atribuída apenas a fatores internos, como as declarações do Banco Central ou a divulgação de dados econômicos. Na realidade, esse fechamento foi observado em quase todos os mercados emergentes nas últimas semanas, com exceção da China.
Os analistas destacam que a valorização de ações sensíveis ao custo do crédito, como as do setor de educação, construção e consumo, tem sido impulsionada por um contexto mais amplo. Em países como Polônia, África do Sul, México e Chile, a redução das taxas é atribuída a um ambiente internacional mais favorável para as moedas emergentes, auxílio da desvalorização do dólar e o avanço nas negociações comerciais.
De acordo com as previsões do JPMorgan, a curva de juros brasileira ainda aponta para taxas superiores às estimativas do próprio banco. O mercado, por sua vez, continua apostando em um retorno da Selic ao patamar de 14,25% até março de 2026, um nível que, segundo o JPMorgan, supera a expectativa fundamentada em dados atuais.
Embora o Ibovespa tenha atingido nesta semana a marca de 135 mil pontos, um patamar previsto pelo banco para o final do ano, analistas acreditam que há espaço para ações ligadas à economia doméstica se valorizarem ainda mais. Isso, especialmente, se o Banco Central optar por encerrar o ciclo de aperto monetário na reunião da próxima semana e iniciar cortes de juros ainda neste ano. O prospecto de uma Selic em um dígito até 2026 reacende o interesse por ativos que dependem de condições de crédito mais favoráveis.
Entre as ações que se destacam em agosto, o JPMorgan menciona Localiza (RENT3), Azzas (AZZA3), Yduqs (YDUQ3), Cogna (COGN3) e Rumo (RAIL3). No acumulado do ano, empresas como Cyrela (CYRE3) e Magazine Luiza (MGLU3), além das do setor educacional, estão entre as principais ganhadoras. Vale ressaltar que, no final do ano passado, o mercado precificava uma taxa de juros de 17% ao ano, impulsionada por um contexto de estresse fiscal e incertezas na política monetária.
Um aspecto notável do comportamento do Ibovespa é sua alta durante o atual ciclo de aumento nas taxas de juros. Se o índice continuar a subir até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), será a primeira vez desde 2004 que isso acontece em um cenário semelhante, quando o Brasil apresentava superávits fiscais e lucrava com a valorização das commodities.
Pesquisas do JPMorgan revelam que o mercado geralmente demora a se ajustar aos sinais de afrouxamento monetário. Desde 2003, o intervalo médio entre o término de um ciclo de alta de juros e o início de cortes é de quase sete meses; após a crise de 2008, esse tempo aumenta para 7,5 meses. Considerando esse padrão, os primeiros cortes podem ocorrer entre novembro e dezembro de 2023.
Historicamente, a performance dos ativos nos primeiros 30 dias após o término do ciclo de alta é negativa, mesmo entre os setores mais dependentes dos juros. Três meses depois, contudo, algumas áreas começam a se recuperar, embora não de forma imediata. Atualmente, a precificação sugere que os investidores já começaram a antecipar um ciclo de flexibilização, restando a dúvida sobre a velocidade e o momento em que isso se concretizará.