A análise de pressões salariais sobre a inflação, divulgada pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) em seu estudo intitulado “Mercados de Trabalho em um Ponto de Inflexão: Tendências de Enfraquecimento em Meio a Elevada Incerteza”, revela um cenário contraditório entre economias avançadas e emergentes. Enquanto os riscos salariais sobre a inflação são considerados limitados nas economias desenvolvidas, o custo unitário do trabalho nas economias emergentes subiu significativamente após a pandemia, elevando as perspectivas de desancoragem das expectativas inflacionárias.
O relatório, publicado em 25 de outubro de 2023, destaca que as condições do mercado de trabalho nas economias emergentes permanecem estáveis, ao passo que o desemprego vem aumentando em várias economias avançadas. Indicadores prospectivos sugerem um possível enfraquecimento adicional nos setores trabalhistas dessas nações.
Os autores do estudo indicam que, embora fatores cíclicos expliquem parte do fenômeno, forças estruturais de longo prazo também desempenham um papel crucial. Aspectos como desregulamentação e pressões demográficas, incluindo o envelhecimento da população e a participação de trabalhadores mais velhos, estão em pauta.
Após um período de forte tensão causado pela pandemia de Covid-19, os mercados de trabalho nas economias avançadas passaram a mostrar sinais de equilíbrio, embora com um arrefecimento notável. As taxas de desemprego aumentaram em diversas jurisdições, a contratação diminuiu e o número de vagas não preenchidas recuou, refletindo uma normalização das condições, conforme observa o BIS.
Apesar desse cenário, indicadores de mercado sugerem que o enfraquecimento poderá se intensificar em certos países. Em contraste, as economias em desenvolvimento vêm apresentando maior estabilidade, embora existam variações significativas entre elas.
O estudo também aponta três tendências estruturais que despertam atenção no contexto atual: a desregulamentação do mercado de trabalho, mudanças na oferta laboral, tanto pela imigração quanto pela inclusão de trabalhadores mais velhos, e incertezas relacionadas ao avanço da inteligência artificial (IA).
Sobre a IA generativa, o relatório sugere que essa tecnologia poderia aumentar a produtividade em setores variados em uma faixa de 10% a 55%. No entanto, seu impacto sobre o emprego é incerto, podendo tanto complementar posições existentes quanto substituí-las ao automatizar tarefas rotineiras. Até o momento, não foram registradas perdas generalizadas de empregos, mas os efeitos variam conforme o setor, o nível de digitalização e as políticas laborais de cada país.