BRASÍLIA / BRUXELAS (Reuters) – O Brasil, por meio do presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, almeja concluir a cúpula em Belém, programada para o próximo mês, com um acordo que garanta mais recursos para ajudar os países a se adaptarem às mudanças climáticas. De acordo com Corrêa, “anúncios positivos sobre recursos para a adaptação” devem surgir durante as negociações.
Em entrevista realizada na última segunda-feira em Brasília, o embaixador destacou que os recursos podem provenir de diversas fontes, incluindo nações ricas, doações filantrópicas e da atenção dos bancos multilaterais de desenvolvimento voltados para a adaptação climática.
A cúpula, que terá início em cerca de duas semanas, ocorre em um contexto global onde as propostas ambiciosas de adoção de medidas ambientais têm perdido suporte político e, consequentemente, financiamento, em meio ao aumento de desastres naturais. Para o embaixador, é vital encontrar novas alternativas de financiamento para que os países consigam lidar com os desafios do aquecimento global.
Corrêa enfatizou que as negociações precisam resultar em ações concretas, afirmando: “As negociações têm que ter resultados. Precisamos mostrar progresso nessa agenda, especialmente numa época em que muitos acreditam que a pauta ambiental perdeu espaço”.
Um relatório recente da ONU estima que, até 2035, o mundo precisará de US$ 310 bilhões por ano para se preparar para os efeitos das mudanças climáticas, um montante doze vezes superior aos investimentos atuais em adaptação.
Embora não esteja definido como um compromisso formal para esta COP, a busca por alternativas de financiamento representa uma estratégia para transitar das discussões para a implementação das medidas. O Acordo de Paris, que é fundamental para limitar o aquecimento global, aborda tanto a mitigação das emissões quanto a adaptação às consequências já presentes.
Diante de um cenário de crescimento dos desastres climáticos, a urgência por medidas adaptativas é evidente. “Estamos chamando essa cúpula de COP da adaptação, pois governos e populações estão em busca de recursos para enfrentar as mudanças climáticas”, afirmou Corrêa, ressaltando a importância de compor um “pacote” de recursos.
O embaixador defendeu que, embora muitas soluções existam, é essencial que todos os países estejam prontos para sua implementação, enfatizando que a COP30 deve marcar uma fase de comprometimento com a execução das decisões já tomadas nas edições anteriores.
Ele elogiou a estrutura da UNFCCC e do Acordo de Paris, considerando-as fundamentais para as negociações, e afirmou que, mesmo com o que já foi acordado, é viável alcançar a meta de limitar o aumento da temperatura global em até 1,5°C. Contudo, isso requer investimentos significativos.
Além disso, as discussões em andamento têm revelado que os recursos não estão sendo suficientemente alocados. A conferência de Baku (Azerbaijão), agendada para 2024, destacou essa dificuldade, com países ricos se comprometendo a apenas US$ 300 bilhões, um valor longe do necessário, que é estimado em US$ 1,3 trilhão.
Com a situação financeira se complicando em decorrência de fatores geopolíticos, como o abandono do Acordo de Paris pelos Estados Unidos e o aumento das despesas com defesa na Europa, a necessidade de alternativas se torna ainda mais urgente. Um “Mapa do Caminho” será apresentado em breve, propondo uma série de soluções, desde simplificações burocráticas até novos modelos de financiamento.
Entretanto, Corrêa alertou que esse documento não possui força legal e seu impacto dependerá da disposição dos países em adotá-lo. “O relatório contém recomendações, mas não sabemos se terá influência nas ações futuras ou gerará iniciativas”, concluiu o embaixador.



