Cingapura/Pequim (Reuters) – A China enfrenta um excedente significativo de soja após meses de importações recordes, o que reduz as perspectivas de exportação dos Estados Unidos. Isso acontece apesar de uma recente trégua comercial que, de acordo com autoridades norte-americanas, envolve a promessa de Pequim de retomar as compras em grande escala.
Especialistas em comércio alertam que os altos estoques, tanto nos portos quanto nas reservas estatais, aliados à retração das margens de esmagamento, fazem com que a demanda por novas aquisições seja limitada. Johnny Xiang, fundador da AgRadar Consulting, aponta que as empresas estatais podem esperar uma recuperação nas margens antes de realizarem grandes compras. Ele observou que, mesmo com a isenção de tarifas, as margens permanecem negativas e a soja brasileira é mais competitiva em termos de preço.
A reunião entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o líder chinês, Xi Jinping, no mês passado, resultou em um compromisso de compra de 12 milhões de toneladas de soja dos EUA até o final do ano e 25 milhões de toneladas anualmente nos próximos três anos. No entanto, a China ainda não anunciou publicamente a formalização desse compromisso, embora tenha suspendido tarifas retaliatórias sobre as importações americanas. A estatal Cofco, por sua vez, reservou somente algumas cargas para embarque nos meses de dezembro e janeiro, conforme relatam operadores e analistas.
Aumento dos estoques e redução das margens
As compras de soja da América do Sul por parte dos compradores chineses aumentaram significativamente no início do ano, enquanto as importações dos EUA foram evitadas, o que levou ao acúmulo de excedentes. Em 7 de novembro, os estoques de soja nos portos chineses atingiram a marca recorde de 10,3 milhões de toneladas, um aumento de 3,6 milhões de toneladas em relação ao ano anterior. Os processadores também mantiveram 7,5 milhões de toneladas, o maior volume desde 2017, de acordo com dados da Sublime China Information.
Os preços do farelo de soja, importante para a alimentação animal na China, caíram mais de 20% desde o pico em abril, ficando em torno de 3.000 iuanes (aproximadamente US$ 421) por tonelada, com grande impacto nas regiões de Tianjin, Shandong, Jiangsu e Guangdong. Os esmagadores enfrentam margens negativas, estimadas em cerca de 190 iuanes por tonelada no centro de processamento de Rizhao. A expectativa é que essas margens permaneçam desfavoráveis até pelo menos março.
Um trader de uma empresa internacional comentou que o espaço para um aumento significativo nas importações de soja pela China é limitado, dadas as enormes reservas e a fraca demanda no setor de ração.
Expectativas de compras estatais ainda incertas
As expectativas de que as importadoras estatais, como Cofco e Sinograin, iniciem rapidamente uma nova fase de compras significativas ainda não se concretizaram. Apesar das condições do mercado, há possibilidade de que estas empresas realizem grandes compras. Segundo um funcionário norte-americano, o governo espera que os parceiros comerciais cumpram seus compromissos.
Os estoques de grãos e sementes oleaginosas na China são considerados sigilosos, mas operadores estimam que os estoques de soja nas mãos de empresas estatais variam entre 40 a 45 milhões de toneladas, volume que duplicaria as importações feitas no ano passado e seria suficiente para atender à demanda dos próximos cinco meses.
Em contraposição, importadores privados continuam a garantir cargas de soja do Brasil para embarque em dezembro. A soja brasileira para embarque em janeiro foi cotada em cerca de US$ 480 a tonelada, incluindo custo e frete, enquanto a soja dos EUA está avaliada entre US$ 540 a US$ 550 por tonelada. Até o momento, os importadores reservaram aproximadamente 2 milhões de toneladas de soja para embarque em dezembro, representando mais de 40% da demanda prevista para o mês, mas as reservas para janeiro seguem lentas.
Arlan Suderman, economista-chefe de commodities da StoneX, comentou que há poucas indícios de que os compradores estatais estejam prontos para cumprir a meta de adquirir 12 milhões de toneladas até o final do ano, e menos ainda para as 25 milhões de toneladas adicionais em 2026.



