SÃO FRANCISCO/DUBLIN (Reuters) – O Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos enfrenta crescente indecisão entre os formuladores de política monetária em relação a novos cortes nas taxas de juros. Essa hesitação surge em meio a preocupações sobre a inflação e sinais de estabilidade no mercado de trabalho, após dois cortes já realizados neste ano. Como resultado, as chances de uma nova redução nos custos de empréstimos em dezembro caíram para menos de 50%, de acordo com as expectativas do mercado.
A presidente do Fed de San Francisco, Mary Daly, que anteriormente era a favor de cortes adicionais, avaliou que uma decisão no próximo mês seria “prematura”. Durante um evento em Dublin, Daly afirmou: “Estou aberta a discussões, mas ainda não tomei uma decisão final sobre o que pensar”.
O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, também demonstrou incerteza ao descrever os últimos sinais da economia como “mistos”. Ele comentou que a inflação ainda se mantém alta, em cerca de 3%, e destacou que diferentes setores do mercado de trabalho estão enfrentando pressões.
Os contratos futuros de taxas de juros indicam atualmente uma probabilidade de 47% que o Comitê Federal de Mercado Aberto reduza a taxa em 10 de dezembro, data da última reunião de política do Fed em 2025. No início da semana, essa expectativa era de 67%.
HESITAÇÃO NAS DECISÕES
A presidente do Fed de Boston, Susan Collins, expressou cautela em relação a novas flexibilizações, citando que sem evidências de uma deterioração significativa do mercado de trabalho, hesitará em apoiar cortes adicionais. Em uma conferência de banqueiros, ela sugeriu que as taxas de juros precisarão ser mantidas “por algum tempo”.
Os comentários de Collins, que votou a favor dos cortes anteriores, refletem divisões crescentes no banco central em relação à necessidade de novas reduções nas taxas. O presidente do Fed, Jerome Powell, já havia sinalizado essas dificuldades, enfatizando que um novo corte não está “garantido”, especialmente diante da escassez de dados oficiais sobre a economia.
A recente orientação da Casa Branca revela que mesmo com a reabertura do governo dos EUA, dados cruciais sobre a inflação e o mercado de trabalho podem não estar disponíveis antes da próxima reunião do Fed. Essa incerteza contribuiu para uma diminuição nas apostas do mercado em relação a um novo corte de 0,25 ponto percentual.
RISCO DE DISSENSÃO
A possível decisão em dezembro também pode enfrentar dissidências. O presidente do Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, expressou que a inflação elevada justifica uma pausa nas flexibilizações. Outros membros, como Alberto Musalem, presidente do Fed de St. Louis, e Philip Jefferson, vice-presidente do Fed, também manifestaram cautela, sugerindo um ritmo mais cauteloso devido à falta de dados.
Além disso, autoridades fora do comitê de decisões, como Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, e Beth Hammack, presidente do Fed de Cleveland, também defenderam a manutenção das taxas estáveis. A posição de Collins, ao se opor claramente a novos cortes, aumenta as preocupações sobre a capacidade de Powell de gerenciar divisões internas no Fed e a incerteza sobre a direção das taxas de juros.
Se o FOMC decidir por uma nova redução, outros membros, como Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, ou Michael Barr, governador do Fed, também podem se juntar a dissidências. Por outro lado, se optarem por manter as taxas, os governadores apoiadores de uma política mais branda poderão se juntar a Miran em suas objeções.



