Um fundo negociado em bolsa (ETF) que investe em ações brasileiras, o iShares MSCI Brazil ETF (EWZ), registrou sua primeira entrada de recursos desde julho, marcando um ritmo que não se via há mais de cinco anos. Os investimentos ultrapassaram US$ 285 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão), refletindo a primeira entrada semanal desde que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, impôs tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em 10 de julho. Este valor também representa a maior entrada semanal no ETF desde dezembro de 2019.
Além disso, essa movimentação de recursos indica o primeiro fluxo positivo em um período de três meses, conforme evidenciado por especialistas no mercado. Brendan McKenna, economista do Wells Fargo, sugere que o encontro entre Trump e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que ocorreu nos bastidores da Assembleia Geral das Nações Unidas em 23 de setembro, pode ter influenciado essa entrada de capital. McKenna, no entanto, ressalta que a recuperação dos fluxos internacionais ainda é cautelosa.
Durante uma conversa telefônica considerada “positiva” por Fernando Haddad, ministro da Fazenda do Brasil, Lula e Trump discutiram a possibilidade de uma reunião presencial futura. O presidente brasileiro solicitou a remoção de tarifas e sanções que pesam sobre o Brasil. Tais tarifas foram parte da estratégia de Trump para interferir no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi condenado por tentativa de golpe em setembro.
Dan Pan, economista do Standard Chartered Bank, destaca que, embora o gesto seja positivo, não houve um acordo formal sobre as tarifas. O foco dos mercados permanece nas políticas internas e monetárias, especialmente com o Federal Reserve dos EUA começando um ciclo de afrouxamento e projeções que indicam cortes na taxa Selic pelo Banco Central do Brasil em 2024.
O ETF EWZ já apresenta um crescimento de 34% até o momento, superando o índice MSCI Emerging-Market Equity, que teve alta de 27% no mesmo período. As ações latino-americanas estão em uma trajetória ascendente, com o índice MSCI EM Latin America avançando 34% até segunda-feira.
Em um panorama mais amplo, a soma das entradas em ETFs de mercados emergentes nos EUA, que incluem diversas nações em desenvolvimento, totalizou US$ 1,89 bilhão na semana que terminou em 3 de outubro, um aumento em comparação com os US$ 1,33 bilhão da semana anterior. No acumulado do ano, as entradas já atingem US$ 26,2 bilhões.
Entre as movimentações:
- ETFs de ações cresceram em US$ 1,44 bilhão.
- Fundos de títulos subiram US$ 446,3 milhões.
- Os ativos totais aumentaram para US$ 454,3 bilhões, comparados aos US$ 441 bilhões do período anterior.
- O índice MSCI Emerging Markets registrou alta de 3,6%, atingindo 1.373,89 pontos, o maior valor desde junho de 2021.
- A China e Hong Kong lideraram as entradas, com US$ 694,6 milhões, destacando-se o Invesco China Technology.
- A Argentina, por outro lado, enfrentou a maior saída, com US$ 34 milhões, devido a retiradas do Global X MSCI Argentina.
Essas movimentações nos mercados emergentes indicam um clima de otimismo e recuperação, impulsionado por negociações diplomáticas e uma expectativa de estabilização nas relações comerciais.