Um patrimônio avaliado em R$ 2 milhões, deixado por um casal de escaladores de 89 anos, está sendo disputado judicialmente por um sobrinho e duas cuidadoras. O casal, formado pelo contador polonês Tadeusz Edmund Hollup e pela secretária aposentada da Petrobras, Cionyra Ceres de Araújo Hollup, vivia em um apartamento localizado na Avenida Oswaldo Cruz, no Flamengo, Zona Sul do Rio de Janeiro. O contador faleceu em agosto de 2018, e a secretária veio a falecer em 20 de maio de 2019, no Hospital Copa D’or, em Copacabana.
O litígio envolve duas versões de testamento, ambos lavrados no mesmo cartório, e dois inventários diferentes. Há ainda investigações sobre possíveis responsabilidades relacionadas à saúde da secretária. O juízo da 12ª Vara de Órfãos e Sucessões, onde o caso está sendo analisado, autorizou buscas por outros bens dos idosos, incluindo um carro importado, e verificações sobre contas bancárias e investimentos.
Tadeusz e Cionyra, que se conheceram em um clube de montanhismo na Zona Norte do Rio, casaram-se em julho de 1952 e não tiveram filhos. O primeiro testamento, registrado em 31 de julho de 2007, destinava todos os bens a Vitor Hollup, sobrinho do casal. Ele também figura como inventariante em uma ação relacionada à herança, que corresponde a 50% dos bens.
Após a morte de Tadeusz, Vitor gerenciou as despesas da casa até outubro de 2018, quando Cionyra contratou um advogado para representá-la. Vitor alegou ter sido barrado de acessar o apartamento por uma ordem deixada na portaria, supostamente assinada por Cionyra, mas um laudo pericial indicou que a assinatura não era da idosa.
No dia 26 de março de 2019, Cionyra foi internada novamente com complicações de saúde, incluindo hipertensão, diabetes e demência avançada. Ela faleceu cerca de um mês após a internação, e logo depois, Vitor descobriu que a secretária havia feito um novo testamento em 5 de dezembro de 2018, que dividia sua herança entre as cuidadoras Maria de Lourdes Barbosa Soares e Gilcilene Souza Martins, com 60% e 40% respectivamente.
Vitor argumenta que Cionyra não estava em pleno gozo de suas faculdades mentais quando fez o segundo testamento, um argumento que está sendo contestado pelos advogados das cuidadoras. O advogado de Vitor também solicitou a desocupação do apartamento, alegando que as cuidadoras acumulam dívida superior a R$ 132 mil em IPTU e taxas.
Em entrevista, Gilcilene defendeu a lucidez de Cionyra ao fazer o segundo testamento, afirmando que a idosa expressou seu desejo de beneficiar as cuidadoras devido a um descontentamento com Vitor. Já os advogados de Maria de Lourdes reforçaram que todos os procedimentos legais foram seguidos e que Cionyra tinha um bom relacionamento com as cuidadoras.
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) está conduzindo investigações sobre a saúde da secretária e a validade do segundo testamento. A Corregedoria de Justiça informou que, na época em que o testamento foi feito, não era prática exigir atestado médico de sanidade mental para a elaboração de documentos por idosos, o que pode ser reavaliado em procedimentos futuros.