A transformação digital alterou radicalmente o cotidiano da população, incluindo modos de trabalho, consumo, entretenimento e gestão financeira. No entanto, essa revolução também trouxe um aumento significativo nas fraudes digitais. De acordo com o Fórum de Segurança Pública, a cada minuto, quatro brasileiros se tornam vítimas desse tipo de fraude.
Somente no primeiro semestre de 2025, os registros de fraudes financeiras, tanto confirmadas quanto suspeitas, chegaram a 1,3 milhão, uma alta de 12% em relação ao mesmo período de 2024, quando foram contabilizados 1,1 milhão de casos. Os dados são de um levantamento inédito da datatech Quod, com base na plataforma Rufra (Repositório Unificado de Fraudes).
Entre as modalidades de crime, destacam-se as chamadas “contas laranja”, que tiveram um crescimento de 38% em um ano. A engenharia social, outra estratégia utilizada por criminosos, registrou um aumento de 29,5%. Por outro lado, as fraudes transacionais, que incluem operações não reconhecidas em cartões ou via Pix, apresentaram uma queda de 3,8%.
Segundo Danilo Coelho, diretor de produtos e dados da Quod, “ferramentas digitais, inteligência artificial e acesso facilitado a dados tornaram os golpes mais difíceis de identificar e mais ágeis na execução”. Ele ressalta a importância de aliar inovação à conscientização: “Educação financeira e tecnológica são essenciais. Quando as pessoas compreendem o sistema, reconhecem práticas suspeitas rapidamente, tornando-se menos vulneráveis a promessas enganosas.”
Contas laranja em foco
Um dos mecanismos frequentemente utilizados por criminosos é a “conta laranja”, que é aberta com documentos falsos ou emprestada por terceiros, servindo para receber recursos de fraudes, golpes e lavagem de dinheiro. Aqueles que cedem contas ou documentos podem enfrentar acusações por crimes como estelionato e lavagem de dinheiro.
Marcelo Alves de Souza, gerente de prevenção à fraude da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), explica: “Existem dois tipos principais: a conta legítima, utilizada para fins ilícitos após abertura regular, e a conta criada com documentos falsos”. Ele alerta a população para monitorar contas em seu nome, utilizando a plataforma Registrato do Banco Central, a qual oferece informações sobre contas abertas em nome do cidadão.
Desde o dia 13 de outubro, instituições financeiras e de pagamento, assim como entidades autorizadas pelo Banco Central, estão obrigadas a bloquear transações destinadas a contas com suspeita de fraudes, em conformidade com a Resolução 501. Para garantir a eficácia dessa medida, o mercado deve adotar novas tecnologias e análise automatizada de dados.
Leandro Vilain, CEO da ABBC, enfatiza: “Proteger dados pessoais é garantir a própria segurança financeira e jurídica”. Ele destaca a campanha nacional “Tem Cara de Golpe”, que orienta a população a nunca ceder documentos, não compartilhar senhas e desconfiar de propostas de lucros fáceis na internet.
Investimentos em segurança no setor bancário
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) projeta que, em 2025, as instituições financeiras deverão investir R$ 48 bilhões em tecnologia, com foco na segurança do cliente e na melhoria dos serviços. Este montante representa um aumento de 13,5% em relação ao ano anterior.
Com essa tendência, as fintechs e bancos digitais, que até agora apresentavam processos de checagem menos rigorosos, devem adotar padrões mais robustos de certificação em alinhamento com o Banco Central. Além disso, o Mecanismo Especial de Devolução (MED), que ganhará novas funções em dezembro de 2025, permitirá que os cidadãos bloqueiem a abertura de contas em seu nome. Até fevereiro de 2026, a versão MED 2.0 deve ampliar a recuperação de valores em situações de fraude, resultado de uma parceria entre o BC e bancos.
Como se proteger de fraudes digitais
- Nunca aceite propostas que envolvam abrir ou ceder contas e documentos em troca de compensação financeira.
- Não compartilhe senhas, códigos de SMS ou tokens de segurança.
- Desconfie de anúncios nas redes sociais que prometem dinheiro fácil.
- Utilize a plataforma Registrato do Banco Central para monitorar contas e empréstimos em seu nome.
- Se suspeitar do uso indevido de seus dados, registre um boletim de ocorrência e notifique seu banco.
O site temcaradegolpe.com.br oferece informações atualizadas sobre os principais golpes e dicas de prevenção.