A inflação projetada para 2027 influenciará a estratégia de cortes na taxa Selic em 2026. O cenário atual é pressionado por gastos públicos, típicos em anos eleitorais, gerando um consenso de que o ciclo de alta da taxa, atualmente em 15%, está se aproximando do fim. As expectativas sobre o início dos cortes variam entre janeiro e março de 2026.
A mediana das previsões do mercado, conforme o Boletim Focus, aponta que a Selic deve encerrar 2026 em 12,13%. Há, contudo, projeções divergentes, com algumas instituições financeiras como ASA e BofA prevendo que a taxa pode chegar a 11,50% e 11,25%, respectivamente, enquanto o Itaú prevê um fechamento em 12,75%.
Fatores Inflacionários
As incertezas econômicas certamente influenciam as projeções de inflação. O Comitê de Política Monetária (Copom) destacou na última ata de 2025 que, apesar da manutenção da Selic elevada, a preocupação com fatores como a resiliência da inflação e as incertezas políticas internas e externas permanece. Recentemente, o Copom retirou o mercado de trabalho da lista de riscos inflacionários imediatos, sugerindo uma redução na pressão salarial.
De acordo com o relatório do Bank of America (BofA), a diminuição do consumo das famílias, registrada no mais recente PIB, é vista como um ajuste necessário na política monetária visando manter a inflação sob controle.
O Impacto do Horizonte Relevante
O horizonte relevante é o período que o Banco Central prioriza para alcançar a meta de inflação de 3%. Fábio Kanczuk, diretor de macroeconomia do ASA, menciona que um dos principais impedimentos para reduzir a taxa de juros era a necessidade de que as projeções de inflação estivessem bem ancoradas nessa meta. Contudo, a maior flexibilidade no calendário permite que o Copom considere cortes mesmo quando as expectativas superam ligeiramente a meta.
Ritmo dos Cortes
A XP prevê que a Selic se mantenha em 15% na primeira reunião do Copom do ano, marcada para 27 e 28 de janeiro, e que os cortes sejam iniciados na reunião de 17 e 18 de março, totalizando seis cortes de 0,50 ponto percentual até alcançar 12% ao final do ano. Por outro lado, a BGC espera um corte de 0,25 ponto percentual já em janeiro, seguido de cortes mais intensos ao longo do ano, também projetando a taxa em 12% ao fim de 2026.
Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, afirma que essa estratégia, começando com cortes conservadores e acelerando posteriormente, permitirá ao Banco Central monitorar com mais segurança o impacto da inflação e ajustar a política conforme necessário.
No entanto, o Itaú diverge, prevendo que a Selic encerre 2026 em 12,75%, em função de dinâmicas econômicas esperadas para o ano. O BofA antecipa um início de cortes em janeiro, com a taxa podendo cair para 11,25%, caso o Copom verifique viabilidade para reduções mais profundas. Já o ASA sugere um corte de 0,25 ponto percentual em janeiro, acelerando para 0,50 ponto percentual em março.
| Reuniões do Copom e Projeção da Selic | ||
| Datas das Reuniões | Projeção XP | Projeção BGC |
| 27 e 28 de janeiro | 15% | 14,75% |
| 17 e 18 de março | 14,50% | 14% |
| 28 e 29 de abril | 14% | 13,25% |
| 16 e 17 de junho | 13,50% | 12,75% |
| 4 e 5 de agosto | 13% | 12,50% |
| 15 e 16 de setembro | 12,50% | 12,25% |
| 3 e 4 de novembro | 12% | 12,00% |
| 8 e 9 de dezembro | 12% | 12,00% |
A ‘Herança’ de 2025 para o Ano Eleitoral
O ano de 2025 foi marcado por tensões econômicas no Brasil, com o Banco Central mantendo a Selic em 15% para controlar a inflação, enquanto o governo promovia injeções de liquidez por meio de benefícios sociais e aumento do salário mínimo. A dinâmica deverá se intensificar em 2026, com a liberação de emendas e obras públicas em decorrência das eleições.
Analistas do Itaú alertam que muitos desses gastos já foram precificados, e medidas como isenção do Imposto de Renda para rendimentos até R$ 5 mil e a expansão do programa “Minha Casa, Minha Vida” possuem impactos estimados de 0,30 ponto percentual e 0,05 ponto percentual no PIB, respectivamente.
O economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, ressalta que a inflação não deve ceder facilmente, o que exige cautela nas decisões de redução da taxa de juros.



